• 19 de maio de 2017

    A ilusão das possibilidades infinitas

    – Mas e porque eu não posso fazer isso?

    – “Poder” você pode, a questão é para que?

    – Porque não?

    – A pergunta não é essa, mas sim para que: qual seu objetivo com isso?

    – E se eu não tiver objetivo?

    – Poderá estar perdendo seu tempo, você já teve essa sensação antes?

    – Sim, várias vezes.

    – Quem faz as coisas sem motivo, em geral tem esta sensação.

    – Porque?

    – Porque não está construindo nada, está? Você também já teve esta sensação.

    – Sim.

     

    Toda escolha implica em renúncias. Parece fácil, mas quando o assunto é nossa vida, não é tão simples assim. Porém, nutrir a possibilidade de ser tudo o que se quer pode ser uma decisão ainda mais dolorosa e nociva.

    As últimas gerações tem nascido com a ideia de que podem fazer tudo aquilo que desejarem. Além do discurso ser muito ruim, a ideia gera uma concepção de mundo doentia. Cada vez mais tenho visto as pessoas frustradas com suas vidas. Não me parece algo sem sentido, afinal, cada vez mais as pessoas tendem a crer que poderão ser muitas coisas que elas não poderão ser. Temos criado uma cultura que faz as pessoas crerem em contos de fadas, no qual ao simples “desejar”, ela se tornará alguém completamente diferente.

    Escolha de profissão, viagens, roupas, carros e relacionamentos tem sido alvos dessa concepção. Quando se crê poder ser tudo, porque se “prender” em uma decisão? Porque não manter todas as portas abertas? Se uma não der certo, posso optar pela outra não posso? Bem, honestamente a resposta é não. Isso não significa afirmar que ninguém em momento algum é capaz de nenhuma mudança. Mas sim de que mesmo as mudanças possuem limites.

    Crer, de outro lado, que é possível ter tudo o que queremos sempre é o que faz as pessoas infelizes. A constante sensação de que “algo deveria estar acontecendo” é, na verdade uma baixa auto realização. Em outras palavras ao invés de ficar esperando “algo” acontecer é importante “você acontecer”. Porém isso só ocorre no momento em que você se define. E definição é escolha, é redução, é “menos”.

    Abandonar o desejo infantil de ser tudo é entrar para a vida adulta. Tornar-se adulto é conhecer a morte de perto. Compreender que não importa quais sejam suas escolhas, todas acabarão no mesmo lugar. Por este motivo não adianta esconder-se de escolher. É importante escolher logo aquilo que se deseja, que se é afim de viver logo. O contrário disso é a eterna sensação de tédio cada vez mais comum em adolescentes e jovens adultos.

    Você não poderá ser tudo o que quer. Até porque muito do que você irá “desejar”, na verdade é apenas um impulso e não um desejo. Você poderá tornar-se alguém, mas isso significa abrir mão de “tudo” e tornar-se “algo”. É sair do mais e ir para o menos. Esta decisões que são tomadas é que faz a vida ter sentido. Quanto mais exercita-se essas escolhas saindo da ilusão do tudo e indo para a realidade do “algo” é que criamos um ser.

    Abraço

     

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