– Eu sei que não deveria ter feito isso.
– Porque não?
– O que eu deveria ter feito era falar com ele, dizer o que eu não gostei e pedir para mudar o comportamento dele.
– Certo, porque?
– Porque eu sei que não quero sustentar uma relação onde o cara faz uma dessas comigo, mas meu erro é sempre ficar calada e não me colocar.
– Perfeito.
– Então eu sei que eu tenho que ir lá e falar com ele ao invés de ficar aqui reclamando dele para você né?
– Eu acho que vai ser bem mais proveitoso!
– Eu também.
– Parabéns… tá percebendo rápido a sua responsabilidade pela sua própria felicidade!
Ser pequeno, embora incômodo é fácil. Existe certo conforto em “ser menos”. A outra opção, a saber: crescer e tornar-se plenamente responsável embora traga paz de espírito, também nos oferece o desafio da responsabilidade.
Todo organismo visa o desenvolvimento. Não há criatura neste planeta que paralisa o seu desenvolvimento, mantendo-se em um nível ideal para sempre. Não é diferente com o ser humano, desde crianças desejamos ser adultos, mais capazes de realizar coisas, de atuar no mundo com maior destreza e segurança. Porém, em nossa vida, nem sempre temos o incentivo para atingir este fim.
Em alguns casos, inclusive, manter-se pequeno é algo admirado e desejado pelo contexto. Em muitas situações as atitudes de independência são tidas como sinônimos de arrogância, indiferença e até mesmo de afronta contra os pais, família ou os bons costumes. O mesmo que ocorre na família também ocorre na cultura das sociedades e dos grupos, atos individuais muitas vezes são tidos como afrontas, a história está recheada de exemplos como esses.
Por este motivo, muitas vezes tememos nos “tornar grandes”. A palavra “grande”, deve ser entendida aqui como tornar-se adulto, ou seja, consciente e responsável por suas atitudes. Esta responsabilidade não é desejada por muitas pessoas por acompanhar, de perto, a noção psíquica da morte. Trocando em miúdos: assumir a responsabilidade pela própria vida (tornar-se grande) significa de certa forma assumir a responsabilidade por sua própria morte.
Daí o medo que temos da responsabilidade. Enquanto crianças, de certa forma, vivemos dentro de um universo no qual confiamos nossas vidas à alguém que consideramos apto a manter esta vida. Muitos adultos, no entanto, preferem manter esta ilusão. Este fato é interessante porque ele não envolve poder econômico ou status social: muitos de meus clientes sustentavam toda a família e mesmo assim ainda eram “pequenos”. Filhos pequenos esperando pela aprovação dos pais sobre sua maneira de ser e de agir.
É óbvio que é importante dizer que isso não é motivo de vergonha, não há nada de moralmente condenável em manter-se pequenos visto que esta evolução da criança para o adulto é uma questão de amadurecimento psicológico e não moral. No entanto, a pessoa que se mantém pequena priva-se da possibilidade em ser mais para ela mesma. Em outras palavras, quanto menor você se mantém, menos de você mesmo é vivido.
O medo, então é de não perceber-se capaz de sustentar sua própria vida, afastar-se dos pais – psicologicamente falando – e nutrir sua própria sobrevivência. Assumir a responsabilidade significa estar exposto e emocionalmente competente para sustentar esta exposição. Um dos trabalho que realizo em todos os meus atendimentos é o de ajudar a pessoa a se preparar para este momento. Cada um de nós possui dificuldades específicas, mas o fato de precisarmos deste crescimento é comum a todos que desejam ser mais de si mesmo.
Abraço