• 30 de setembro de 2016

    Aquilo que não gosto em mim

    – Mas daí era tão bobo que eu pensei: ah, tenho que superar isso né?

    – Me conte mais

    – Daí comecei a fazer minhas coisas e estou me sentindo bem melhor.

    – Perfeito! E aquilo que você tinha percebido?

    – O que tem?

    – Ah, deixei para trás né?

    – Porque? Só porque era “bobo”?

    – Sim né?

    – Então pegue de volta.

    – Mas porque?!

    – Se era tão bobo assim, não pode te machucar né?

    – Mas eu não quero.

    – Eu sei, mas é uma parte sua não é?

    – Mas eu não quero que seja mais!

    – Mas é.

     

    Auto estima não significa lidar apenas com aquilo que há de bom e maravilhoso em nós. Saber aceitar aquilo que não apreciamos é parte fundamental desse trabalho. Mas como e porque fazer isso?

    Auto estima não lida com idealizações de ego. Este é o motivo pelo qual muitas pessoas não sabem criar uma boa auto estima. A pergunta desafio que sempre lanço é: como se amar agora, nesse momento, mesmo com tudo o que você percebe de ruim e bom sobre você mesmo? Ou ainda, uma variação ainda mais cruel: sim, percebo este e aquele defeito em mim e ainda me amo.

    Não se trata de negar e nem de fazer corpo mole, mas sim perceber que há algo além de qualidades e defeitos quando falamos em auto estima. O ponto é o respeito pessoal e esse não requer competências para ser merecido. O auto respeito, no entanto, envolve tudo aquilo que a pessoa é e não apenas as partes mais brilhantes do seu arsenal. Pode parecer paradoxal, mas sem aceitar e respeitar aquilo que não gosto em mim não posso ter uma auto estima bem estabelecida.

    Isso se deve ao fato de que para não aceitar ou respeitar aquilo que não aprecio, vou fazer alguns malabarismos psicológicos e emocionais como negação e projeção para tentar me livrar das características “negativas”. Porém estes malabarismos, mais cedo ou mais tarde, vão me fazer “tropeçar”, ou seja, cair em uma situação onde não posso fugir, negar ou projetar minhas fraquezas. Nesse ponto é que você voltará a se deparar com aquilo que não gosta em você. Além disso a energia investida nesses malabarismos não é empregada para a construção da auto estima.

    Aceitar aquilo que não apreciamos em nós significa saber lidar com a frustração da imperfeição. Saber-se imperfeito é necessário para uma boa auto estima porque é, também, saber-se real. É importante aprender a construir caráter e “ir além”, mas sempre teremos características, atitudes que não gostamos em nós e lidar com isso é fundamental para a boa auto estima.

    Um dos passos para fazer isso é parar de se cobrar. Pensar no que de tão ruim pode acontecer se você for quem é do jeito que é pode ser um caminho útil. Em geral, nos cobramos demais por aquilo que não somos e, com isso, damos uma ênfase muito grande nos nossos “defeitos”. Assim a pessoa cria fantasias catastróficas repetidas vezes por causa de algo que nem é tão prejudicial na prática.

    Outra questão é buscar compreender o que você pode ganhar ao aceitar aquilo que não gosta em você. Geralmente tentamos esconder algo que não dá para esconder, fingir ser quem não somos e isso apenas nos desgasta. Nisso, não conseguimos perceber que ao aceitar um defeito, podemos aprender mais sobre ele e não sermos tão prejudicados quando tivermos que nos confrontar com ele. É como um treino contra catástrofes, ninguém quer estar no meio de uma, mas se for o caso, é melhor saber o que fazer.

    Por fim, a compreensão de que todos temos aquilo que não gostamos em nós é a percepção de que somos, sim, “luz e sombras”. É justamente por este motivo que somos dinâmicos e podemos evoluir. Sem essas características não seríamos humanos. Perceber aquilo que fazemos bem nos ajuda a construir perceber nossas deficiências pode nos ajudar a buscar ser mais ou simplesmente aceitar uma condição e lidar com ela da melhor forma possível.

    Abraço

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