• 22 de junho de 2016

    Catastrófico

    – Mas daí o que acontece é que eu… não sei… não vai sabe?

    – O que não vai?

    – Não consigo criar uma imagem na minha cabeça.

    – O que você consegue criar?

    – Bem… se eu penso, é só no que vai dar errado.

    – Entendi, qual o efeito disso sobre você?

    – Não me anima.

    – Não né? Te mantém longe da responsabilidade de fazer não é mesmo?

    – Hum…

     

    Existem muitas maneiras de evitarmos nossos sonhos, sabotagens, medo, baixa auto estima. Criar cenários catastróficos para o futuro é uma delas. Em geral, quando o futuro é pior que o presente, não queremos nos movimentar até ele, mas isso pode ser uma bela desculpa para não se responsabilizar.

    Responsabilidade é uma tema complicado em nossa cultura. Se de um lado o Ocidente trouxe a tona a importância do individuo, ou melhor dizendo, o poder que evoca deste indivíduo, de outro lado negligenciou a temática do medo e da solidão assim como a da responsabilidade. O medo é algo comum para aquele que busca um caminho próprio, a solidão e a responsabilidade, estes três elementos se misturam e precisam ser compreendidos para que responsabilizar-se seja algo bom para a pessoa.

    A pessoa catastrófica, por exemplo, tende a gerar cenários nos quais tudo vai dar errado. Existe uma diferença entre antever algo que pode dar errado e se preparar para isso e o catastrófico. A primeira atitude visa a proteção ou criar conforto, antevê as situações e se programa para elas com comportamentos adequados. O segundo cria, sempre, cenários nos quais algo vai dar errado e a pessoa não tem como fazer nada. Ela é uma perita em se colocar num beco sem saída.

    Esta atitude, na verdade, não visa proteção, ela visa estagnação. Esta maneira de visualizar o futuro não permite que a pessoa consiga mover-se adiante. Ela enaltece o medo de uma maneira a tornar qualquer atitude impensada, estúpida ou proibitiva. Ao perceber-se só, ela fica com o medo e permite que este seja enaltecido, assim sendo, projeta a responsabilidade de seus sonhos em elementos externos e afirma que é por causa deles que ela não sai do lugar (e, geralmente, por este motivo é infeliz).

    É necessário compreender o medo enquanto uma defesa contra a ação. Se a pessoa ainda crê nele enquanto uma proteção, estará criando uma redoma ao seu redor para não entrar em contato com a angústia de criar o seu próprio caminho. Esta atitude é difícil porque as imagens que a pessoa cria em sua mente sobre o futuro são muito nítidas e ela tende a lembrar apenas de situações que deram errado.

    O catastrófico é o que chamamos de uma pessoa que aprendeu a ser desamparada. Vários motivos podem ter levado ela a aprender que é melhor ficar onde está porque não há nada a ser feito e tudo pode ser muito perigoso e a verdade é que ela permanece mesmo. Nesse sentido temos desde o choroso, o turrão ou o frágil que personificam esta mesma atitude. Temos, também o “falso-rebelde” que fica sempre encontrando pessoas que bloqueiam o seu desabrochar apenas porque ele, no fundo, realmente não quer lidar com isso.

    Abraço

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