• 15 de maio de 2017

    Como posso saber que estou fugindo de algo importante?

    – Mas agora eu estou convicto disso, sei que é o melhor para mim.

    – Entendo, mas não me parece que isso vai ter levar a algum lugar.

    – Como não?

    – Não me parece, mas posso estar errado. Tente explicar para mim.

    – Ora… eu começo a pós e o mestrado, me dou bem estudando, daí eu vou ter mais condições no mercado.

    – E para qual mercado vai mesmo?

    – Bom, daí eu vou ver né?

    – Hum… esta é a mesma resposta que você me deu uns 4  meses atrás. Então, quer dizer que depois de ficar uns 3 ou 4 anos afastado do mercado, você dará a mesma resposta novamente e me diz que isso é uma solução?

     

    A vida nos traz vários desafios, nem sempre conseguimos responder prontamente à eles e fugimos. A fuga não traz satisfação ou a resolução do problema, o qual retorna. Podemos fugir de novo, mas, cada vez mais o problema só cresce. Compreender quando fugimos é fundamental para enfrentar e dar um fim aos ciclos de fuga.

    A fuga tem a ver com o medo do enfrentamento. Por vezes este aparece como uma necessidade que a vida nos impõe, em outras como condição para realizarmos nossos sonhos. Enfrentar a realidade é outra maneira de dizer que estamos buscando realizar algo. O problema com a realidade é que ela é crua, não há espaços para interpretações na realidade, as coisas simplesmente acontecem. Afim de evitar isso e assumir as consequências, algumas pessoas preferem fugir. Isso, porém, também traz consequências.

    Uma das formas de fugir mais conhecidas e utilizadas é o “medo do não”. Toda pessoa que teme receber o não está fugindo de um enfrentamento. O “não”, embora não desejado, é uma resposta, é a concretização de algo. O rapaz que teme receber o não de uma menina teme concretizar a ação, foge dela. A pessoa passa a evitar a responsabilidade em se comprometer com aquilo que lhe é importante. Usa o não como uma desculpa e passa a temer isso.

    O raciocínio padrão é: “eu tenho medo, por isso não faço”. Porém o raciocínio adequado é: não me comprometo com isso, logo crio medos e dou valor para eles, com isso passo a usar o medo como uma defesa contra a ação. Em outras palavras o problema não é o medo, mas a falta de um compromisso sério com aquilo que se deseja. Enquanto o compromisso não é maduro a pessoa pensa em termos de ganhos e perdas. Quando o raciocínio se torna madura ela pensa em termos de necessidade.

    A diferença entre esses pensamentos, no caso do rapaz que quer paquerar a moça é o seguinte: “mas e se ela disser não? Vou me sentir muito mal.” Este pensamento foca na perda em contraste com o ganho. As coisas ficam binárias e torna-se difícil escolher. O outro pensamento funciona assim: “bem, faz parte do jogo perder, como quero jogar o jogo, aceito o risco”. Essa reflexão leva em consideração o não como parte do jogo da paquera e não como uma perda ou ganho.

    Outra maneira de fugirmos é criando interesses que nos afastam do que realmente precisamos. É muito comum também e ocorre quando a pessoa está vendo seus problemas com muita clareza. Neste momento, o compromisso é inevitável porque a situação está clara diante da pessoa. Porém, para evitá-la, a pessoa se compromete com algo que parece solucionar o problema, mas não o enfrenta de fato, apenas come pelas beiradas.

    Ainda no caso do rapaz, podemos pensar que ele vai falar com a menina, mas não a paquera. É a famosa estratégia de homens que se tornam “melhores amigos”, mas nunca “amantes”. Ele pensa estar solucionando a situação porque está próximo da menina e conversando com ela, mas o fato é que está, ainda, evitando paquerar ela. Com isso, parece que ele está enfrentando a situação, mas, no fundo, não está.

    Outro exemplo cada vez mais comum é das pessoas procurarem mestrado, doutorado ou intercâmbios apenas para se esquivarem da ida para o mundo profissional. Elas dizem estar fazendo algo para melhorar sua condição profissional: aprimorar o inglês, ter um mestrado na área que quero; mas, no fundo, essas atitudes apenas afastam a pessoa que vai ter que ficar mais tempo sem entrar em uma empresa ou iniciar o seu negócio.

     

     

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