• 19 de outubro de 2016

    Eu sou eu, você é você

    – Eu não aguento mais ela!

    – Ela é difícil não é?

    – Sim, e eu já tentei de tudo… não consigo me sentir bem com ela.

    – Quando você diz, já “tentei de tudo”, o que está querendo dizer?

    – Eu já tratei ela de várias formas, mas ela não muda Akim!

    – Eu sei, mas este não é o ponto é? Não é para mudar ela que você se comporta diferente.

    – Não? E porque?

    – Para você se sentir melhor, ela vai continuar sendo quem ela é.

     

    Talvez um dos aprendizados mais difíceis para o ser humano é aceitar os outros tal como são e conviver com isso da maneira que é possível. O que torna isso tão difícil e como proceder para conseguir fazer isso?

    “O inferno são os outros”, as relações humanas são o palco onde desenvolvemos boa parte de nossas vidas. Seja você uma pessoa que gosta e participa ativamente de vários círculos sociais ou uma pessoa reclusa que fala com pouquíssimas pessoas, os outros terão influência sobre sua vida. O fato de estar isolado das relações não indica que elas não são presentes na vida de alguém, sua ausência ou os motivos que causam a pouca sociabilidade fazem parte da personalidade da pessoa, o mesmo vale para quem relaciona-se muito.

    Por esta razão conviver e estabelecer laços se torna uma habilidade indispensável para a vida de qualquer um de nós. Um dos maiores problemas que enfrentamos é em relação ao desejo de controlarmos o mundo, porque as coisa não são da maneira que desejamos? Porque as pessoas não são como queremos que sejam? A vida em comunidade é uma eterna frustração nesse sentido.

    A questão, inclusive, é exatamente esta: ao invés de aprendermos a lidar com o que o outro “é”, queremos entender o porque ele não é como queríamos que ele fosse. Muitos de nós, inclusive, não ficam apenas por aí, desejam mudar, ou melhor, aperfeiçoar os outros para que eles sejam “melhores”, na verdade, para que sejam mais adaptados ao que queremos deles.

    Ao invés de buscarmos nos aperfeiçoar enquanto pessoas, queremos mudar o mundo e a sociedade. A vaidade e  o orgulho em falarmos como o restante do mundo deveria ser, apenas servem como escudos contra a nossa falta de competência em lidar com aquilo que é diferente e, principalmente, com aquilo que não controlamos. Enquanto lutamos para entender porque as coisas e as pessoas não são do jeito que queremos estamos nos mantendo distantes da solução.

    Qual a solução? Não se trata de encontrar uma maneira de mudar o mundo, mas sim de entender como o mundo funciona. Nossas ideias podem ser muito belas, mas podem ser erradas também. Ajudar a borboleta a sair do casulo, abrindo o casulo para ela não a ajuda, mata, pois ela não limpa a gosma de suas asas e não consegue voar. Mas é uma ideia “bonita” ajudar o próximo, tirar as dificuldades dele. Por outro lado, nem sempre isso ajuda e é assim que o mundo funciona.

    Então ao invés de mudar as leis do mundo, buscar compreender as leis do mundo, de cada pessoa e, a partir delas, se relacionar. As mudanças que são possíveis são as que são possíveis dentro de uma determinada maneira de existir. Se a pessoa deseja mudar isso é uma questão dela e não nossa para considerar.

    No entanto, colocar-se nessa perspectiva significa lidar com a nossa impotência em mudar o mundo ao nosso bel prazer. Desejo infantil que precisa se tornar adulto: o mundo não se molda ao nosso desejo, ele se molda frente ao que pode se moldar, apenas o que pode acontecer acontece.

    Quando saímos da ideia de mudar o outro (seja por qual for o motivo) e passamos a querer entender o outro e definir os limites de nossa relação com ele, nos tornamos adultos. Este “adultecer” é que é a “solução” para o inferno dos outros que apenas são inferno quando olhamos eles como cópias imperfeitas daquilo que desejamos deles e não como eles realmente são.

    Abraço

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