• 25 de julho de 2016

    Ilusões

    – Eu tenho tido sensações estranhas Akim. Cada vez mais sinto que sou eu mesmo, ao mesmo tempo que tenho me sentido bem comigo mesmo, também sinto um aperto no peito sabe?

    – Quando você sente este aperto?

    – Sábado, por exemplo, eu havia terminado um projeto e sai para caminhar. No meio da caminhada me deu isso.

    – No que você estava pensando ou olhando quando sentiu isso?

    – Eu estava olhando para um casal e depois para um grupo de jovens que estava tocando violão. Me lembro de ter pensado algo como “meu trabalho está feito e não preciso deles”.

    – O que será que esta frase quis dizer?

    – Não sei… acredito que tenha algo a ver com o fato de que o meu trabalho feito não me aproxima de ninguém, ele é só o meu trabalho feito entende? Ao mesmo tempo é como se isso me fizesse sentir só.

    – Sim, entendo.

     

    E você, entende? “Ser quem eu sou” é um desejo impregnado em nossa cultura. Associamos à ele sucesso, felicidade, amigos e uma vida maravilhosa. Mas, o que é de fato: ser quem eu sou?

    Hoje existe uma grande comoção a respeito de “sermos que somos”, colocamos esta prioridade como fundamental para a vida de qualquer pessoa digna de ser chamada de pessoa. Apostamos cegamente na premissa de que se nos “encontrarmos”, “tudo dará certo” e que isso é que traz fama, fortuna e todas as coisas boas da vida.

    Porém…

    E se descobrir quem você é, simplesmente seja descobrir quais serão os limites que vão pautar a sua vida ao invés da maravilhosa propaganda que mostra que quando você se define encontra uma vida sem limites? É um contra senso acreditar que “definir” é ter uma vida sem limites visto que definir é, justamente, colocar limites, delimitar um conceito, uma ideia. Ao descobrir quem somos, nos definimos e isso, caro leitor, significa colocar limites.

    Na verdade, nada de mágico ocorre quando as pessoas descobrem quem são. Esta descoberta implica, apenas, em conhecer o caminho que você deseja seguir, não é uma varinha mágica da abundância de tudo o que nossa cultura valoriza. Um exemplo é: e se não se descobrir como alguém que vive muito bem sem muito dinheiro, zero fama e uma vida social tranquila e pacata? Se você for feliz, de verdade, vivendo algo considerado como menor?

    Embora o leitor possa dizer “nada de errado com isso”, o fato que vejo em consultório é que as pessoas se assustam quando percebem que não querem fama, glória e riqueza. Já tive pessoas que me disseram: “eu não posso não querer mais”. Elas se ressentem de sua própria felicidade que é muito mais simples – e por vezes interessante – do que a oferecida pela mídia porque elas não serão enaltecidas socialmente por quererem o que querem.

    Descobrir quem é significa estar só e conhecer a sua solidão. Ninguém poderá lhe fazer completo. Ninguém poderá viver a sua história, seja ela boa ou ruim para você. Este ponto é esquecido, mas entrar em contato com aquilo que queremos ser e fazer isso nos coloca numa forte solidão justamente porque percebemos que não há magia no auto conhecimento, apenas a crueza da realidade de quem somos.

    Obviamente, embora crua, ela é melhor do que a ignorância, afinal de contas, conhecimento é poder, mas de qual poder estamos falando? Não se trata de poder sobre as pessoas, mas sim sobre você mesmo o que realmente aumenta com o auto conhecimento é o seu poder de decidir, mas isso não quer dizer que a sua decisão lhe tornará rico, ela pode, por exemplo, causar isolamento, fazer você perder dinheiro num primeiro momento ou mudar completamente a sua vida.

    A honestidade não traz promessas, apenas mostra a realidade tal como é. É neste ponto que muitas pessoas colocam um pé para trás em seus processos. Enfrentar a nossa realidade pode ser muito frustrante e muito amedrontador porque “ela é ela” e não as ilusões que temos sobre ela. É como passar anos pesquisando um tema partindo de uma teoria para provar que a sua teoria era falsa, pode ser duro, mas é a realidade.

    Uma história zen fala de um aluno que sonhou estar reunido em uma sala com todos os grandes mestres. Ele perguntou para eles qual era a grande recompensa em encontrar a iluminação. Os mestres responderam: nenhuma. Não há recompensas em se ver tal como se é, encontrar-se é apenas isso, encontrar-se.

    E teria melhor recompensa que essa?

    Abraço

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