• 2 de dezembro de 2016

    O freio da perfeição

    – Mas porque eu vou fazer se não sei direito?

    – Porque não faria?

    – Justamente por isso, não sei fazer direito?

    – Você nasceu sabendo tudo? Porque não aprende?

    – Ah… mas… poxa… vou me expor desse jeito para que?

    – Expor? O que você tem medo de expor? Que não sabe tudo?

     

    O desejo pela perfeição pode ser uma força motivacional enorme ou o pior de seus problemas. Gosto de afirmar que quando a perfeição é um adjetivo, ela se torna problemática, mas quando é um gerúndio, pode ser uma virtude. Quer saber mais?

    Muitas pessoas desejam a perfeição, porém, elas tratam esta característica como um adjetivo que deve vir de antemão. Em outras palavras, primeiro preciso ser perfeito em algo para, então, fazer este algo. Primeiro preciso verificar se sou um escritor perfeito para então escrever ou um exímio conquistador, para então paquerar alguém.

    Esta percepção da perfeição é, na verdade, uma forma de cobrança que está completamente desvirtuada da realidade porque ninguém pode ser perfeito em algo sem se envolver com este algo. A perfeição não é uma característica que vem antes de realizarmos algo, mas sim o contrário.

    Então o que acontece de fato é que a perfeição se torna um freio da ação impedindo a pessoa de continuar ou de se esforçar em suas buscas porque ela não é perfeita naquilo. Em geral, a frase que ouço é “se eu não for perfeito nisso, não vou fazer”, o problema, porém é que não nascemos perfeitos em nada, vamos nos aprimorando ao longo do tempo.

    O desejo pela perfeição retrata de forma disfarçada o medo da reprovação ou rejeição. Em geral, quanto maior a necessidade de perfeição, maior o medo em ser rejeitado ou reprovado. A partir do momento em que a suposta falta de perfeição em algo o faz parar um projeto ou abandonar uma ideia ela está agindo contra você e não a seu favor. O fato é que a pessoa tem tanto medo de ser rejeitada que termina por não agir afim de não “dar ao outro munição contra ela”.

    Esse movimento destrói a espontaneidade assim como a capacidade de aprender e torna a pessoa preguiçosa. A preguiça vem porque ela só vai se ater àquilo que faz muito bem, em outras palavras: ela só fará o que tem facilidade, mesmo que não seja o que ela quer. O problema é que mesmo naquilo que somos bons e temos facilidade, mais cedo ou mais tarde, encontramos nossos desafios e a tendencia do perfeccionista será largar esse desafio com medo de errar.

    Por outro lado, se você consegue buscar a perfeição sem temer o erro e o aprendizado, você pode tornar-se um verdadeiro gênio. É comum admirarmos essas pessoas pelos seus feitos e realizações, porém, nunca as admiramos pelo que de fato deveriam ser admiradas: a persistência. Nenhum gênio criou suas teorias da noite para o dia, nenhum atleta perfeito bateu suas metas sem muito treino, assim sendo, deveríamos admirar essas pessoas pela dedicação que tem em prol de suas metas isso mudaria nossa cultura de busca pela perfeição fácil por uma cultura que entende que o esforço e dedicação, lidar com frustração e continuar buscando seus sonhos são as verdadeiras virtudes que constroem caráter e civilização.

    Abraço

    Comentários
    Compartilhe: