• 21 de maio de 2021

    Rejeição e arrogância

    – Mas eu tenho medo de fazer isso.

    – Medo do que?

    – Ah… de ser rejeitado.

    – Qual o problema?

    – Eu não quero ser rejeitado né?

    – Não?

    – Não! Claro que não né?

    – Então temos um problema.

    – Porque?

    – Porque é impossível passar pela vida sem topar com a rejeição.

     

    O medo da rejeição pode causar muitos problemas. O sentimento leva a pessoa a atitudes inadequadas que terminam por criar a situação temida. Porém o medo da rejeição também traz consigo uma carga de elevado narcisismo. Como resolver isso?

    O sentimento de medo visa nossa proteção. Tememos algo que pode nos causar algum tipo de dano físico, moral, emocional ou psicológico. A solução para o medo reside em saber (ou aprender) a se proteger daquilo que pode nos causar o dano. Atitudes de luta, fuga e aprendizado de novas competências se fazem necessárias afim de enfrentar o medo.

    Porém, muitas pessoas resolvem não ter estas atitudes. Procuram ficar em um estado de fuga permanente ou de paralisa auto gestada que as afasta de uma possível solução para o problema. O motivo pelo qual estes comportamentos ocorrem, muitas vezes é a arrogância. Os comportamentos citados servem como uma defesa da pessoa contra a realidade que coloca a sua arrogância em risco. Basicamente, algumas pessoas defendem sua própria arrogância.

    Arrogância aqui é entendida como a característica de manter uma imagem de si que não é possível de ser tornada concreta. Vejamos duas frases sobre o medo em ser rejeitado: (a) “quando me rejeitam, me sinto como se fosse um nada”; (b) “eu fico triste em perder a possibilidade de fazer algo com a pessoa, queria lidar melhor com isso”. A primeira frase demonstra uma equivalência complexa, na qual a rejeição de um desejo assume o valor da rejeição do eu. A segunda, diferentemente, trata de um produto da rejeição, a tristeza com a qual a pessoa não sabe lidar.

    A diferença entre as duas frases reside no fato de que na primeira há uma percepção da rejeição do “eu” enquanto na segunda não. A arrogância da primeira frase reside em uma lógica perniciosa escondida: se rejeitam meu desejo, rejeitam minha pessoa, logo há algo de errado comigo. Este raciocínio é falacioso pelo fato de que não é necessário haver algo de errado com alguém para haver rejeição de suas intenções.

    Esta lógica escondida, então, pressupõe um fato: ninguém pode me rejeitar. Ora, se o fato de rejeição significa para a pessoa que há algo de errado com ela é porque ela não se crê capaz de ser rejeitada. É algo no seguinte sentido: “como assim me rejeitaram? Isso está errado, será que o erro é comigo?” Porém, qual o “erro” na rejeição de uma intenção? O que há de errado em uma pessoa negar o desejo da outra?

    Assim, uma auto imagem que não se permite ser negada é, na verdade, uma auto imagem arrogante, visto que ela não é capaz de atingir seu intuito. O desejo de nunca ser rejeitado, longe de ser uma virtude é, na verdade, imaturo. A percepção de um ser incapaz de rejeição demonstra falta de perspectiva além de um ego muito frágil que não consegue manter-se firme diante da exclusão do seu querer. Nesse sentido, a busca é de se estruturar uma auto imagem mais realista, que seja capaz de se perceber digna mesmo diante da rejeição de seus desejos.

    Abraço

     

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