• 26 de setembro de 2016

    Tempo de reclusão

    Mesmo quando tudo pede
    Um pouco mais de calma
    Até quando o corpo pede
    Um pouco mais de alma
    A vida não para

    Enquanto o tempo
    Acelera e pede pressa
    Eu me recuso, faço hora
    Vou na valsa
    A vida é tão rara
    Trecho da música “Paciência” de Lenine
    Que a vida não para, todos sabemos. Porém, mesmo assim, isso não significa que nós não precisamos de uma pausa para organizar nossa mente. Você sabe quando é este momento? O que fazer com ele?
    Em primeiro lugar preciso diferenciar momentos de reclusão, de vida de reclusão. Esta última dedicada a monges e pessoas religiosas ou inclinadas à um determinado tipo de conduta ou seita que prega uma vida de afastamento dos grandes centros sociais e urbanos. Momentos de reclusão talvez sejam importantes para todos nós e eles se distinguem da vida reclusa por terem começo, meio e fim.
    Reclusão não deve ser uma fuga. Tirar um momento para refletir em sua vida é diferente de fugir dela, assim, aqueles que fogem de problemas através de viagens (algo muito comum na nossa cultura), por exemplo não estão tirando um momento para refletir e sim, apenas saindo de cena quando “a coisa aperta”.
    Maomé, quando foi para a caverna escrever o Corão, recebeu um chamado. A reclusão possui esta característica, é um chamado feito pelo corpo ou por alguma parte de nós que precisa de atenção. Ela possui uma dose de inquietação, misturada com angústia e um desejo por estar só com aquilo que nos deixa inquietos.
    O primeiro momento, porém, é angustiante e desesperador. Não é  porque Maomé entrou na caverna que tudo se resolveu em questão de minutos (não, ele não pode fazer download o Corão de alguma biblioteca mística) ele precisou sentar-se lá e angustiar-se. A angústia lhe deu uma resposta: “escreva”. A questão é que as pessoas não sabem mais angustiar-se, embora, este seja o primeiro passo da reclusão verdadeira.
    Se você aguentar a angústia (que nada mais é que o vazio daquilo que ainda não existe plenamente formado em você) o segundo passo será ter uma corrente de ideias e sentimentos que você precisará começar a organizar. Ao organizar isso, você começará a compreender qual o verdadeira tema de sua reclusão. Até então o que ocorre é permitir que o tema venha à tona, depois disso é importante que você aprenda a reconhecer e lidar com o tema.
    Depois de reconhecer o tema você deverá compreender o que você quer com o tema. Este passo pode ser o mais difícil porque envolve uma escolha. Neste ponto do processo a pessoa irá determinar o que realmente vai fazer. Maomé, por exemplo, além de escrever resolveu retornar com a palavra escrita e usá-la em sua sociedade, ele poderia ter simplesmente deixado o livro lá na caverna ou se recusado à escrever.
    O último passo, reside em sair da reclusão. O retorno para a sociedade se dá com o acúmulo da experiência vivida fora dela. A pessoa que entra em reclusão precisará voltar, mais cedo ou mais tarde para a sua vida normal, porém, ela não será mais a mesma. Esta transformação é, na verdade, o objetivo da reclusão. Retornar absolutamente o mesmo significa que você saiu de férias (o que pode ser muito bom), mas não entrou em reclusão.
    Abraço

     

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