• 20 de maio de 2020

    A identidade ampliada

    – E agora que eu fiz estou me sentindo diferente.

    – Melhor, pior?

    – Diferente… como seu eu estivesse “podendo mais”, mas sem me achar mais, entende?

    – Claro, você aprendeu que é capaz de realizar mais coisas do que pensava antes.

    – Sim, isso.

     

    Muitas pessoas temem perder sua identidade ao mudar algum comportamento. Comportamentos e identidade são elementos distintos da psique, embora possuam conexão, a mudança de comportamento não altera a identidade. Porém, quando emitimos novos comportamentos, podemos ver a nossa ação no mundo de maneira mais ampla e, com isso, ampliar ainda mais a nossa identidade.

    Comportamentos e identidade possuem uma relação. Afinal de contas, aquilo que fazemos e seus resultados fazem parte de nossa vida psíquica e terminam por serem fontes de nossa auto imagem e auto estima. porém tratam-se de elementos diferentes. Por exemplo, posso ser ruim em futebol, mas isso não faz de mim uma pessoa ruim. Porém, se eu me “fusiono” com meu comportamento e com seus resultados, o fato de jogar futebol mal poderá “fazer de eu” uma pessoa ruim. É quando muitos ex jogadores, por exemplo, deprimem ao se aposentarem.

    Assim sendo é fundamental compreender que comportamento e identidade são elementos distintos. Muitas vezes, inclusive afim de mantermos nossa identidade ou de expandir nossa percepção sobre nós mesmos precisamos abrir mão de determinados comportamentos ou aprender a realizar novos. A noção de identidade ampliada, por exemplo, é útil nesse sentido. Muitas vezes as pessoas dizem que se fizerem algo ou deixarem de fazer algo vão deixar de ser elas mesmas.

    Essa é uma visão pequena sobre sua identidade. Afinal, identidade é, de certa forma, uma competência que tem a ver com a nossa habilidade em aceitar aquilo que fazemos, pensamos e sentimos como parte de nós. Não se trata exatamente de gostar ou não, mas de perceber isso como algo que é meu de alguma maneira. Com isso, se a pessoa consegue ver além, ela poderá entender que aprender a fazer algo diferente do que ela é habituada ou deixar de fazer algo costumeiro em determinada situação são comportamentos que ampliam a identidade e não que a corrompem.

    É óbvio que podemos pensar em “limites” no sentido de que os novos comportamentos precisam, de alguma maneira, estarem vinculados à um sentido de propósito. O fato é que mesmo com isso, sempre evoluímos no sentido de que aprendemos ou somos capazes de coisas que antes não éramos. A mudança comportamental, nesse sentido nunca atrapalha ou faz a pessoa deixar de ser quem é, apenas instrumentaliza a pessoa a poder continuar sendo ela mesma, de uma forma ainda mais eficaz.

    Este último comentário é para ajudar você que tem este medo em mudar porque crê que irá perder-se. Não vai. Pelo contrário, ao ficar preso em uma noção pequena de “eu” é que você poderá acabar se perdendo. Quando crianças fazemos coisas de criança, mais tarde aprendemos a ter novos comportamentos e agimos como adultos. Isso é uma mudança e é boa. Nos faz evoluir. Vale sempre a pena pensar que a pessoa que somos hoje não é tão importante, ela é, apenas a ponte entre quem somos hoje e quem vamos ser no futuro. E muitas vezes este “eu do futuro”, para existir, precisa de novos comportamentos.

     

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