• 10 de junho de 2019

    A importância da coragem

    – Eu sei disso Akim, mas…

    – Mas?

    – E se…

    – Não sair como você queria?

    – Sim.

    – Nós já tratamos isso. Talvez não saia. Vale a pena não agir por causa disso?

    – Não.

    – Porque?

    – Porque se der certo será muito bom, se der errado eu resolvo a situação, não do jeito que eu queria, mas é melhor  isso do que ficar como estou.

    – Então dando certo ou errado, você, de alguma maneira se resolve, certo?

    – Sim.

    – Então?

    – Acho que eu preciso de coragem.

     

    Coragem. Embora esta virtude tenha sofrido vários ataques sobre sua essência, ela continua, na minha opinião necessária para quem deseja buscar o auto conhecimento. Pois esta busca é exigente, e uma das exigências que ela faz a todos que a buscam é lidar com nossos medos.

    É um fato que precisamos de coragem quando sentimos medo. Mas quem não sente medo? Tomando a mitologia, mesmo Cristo e Buda passaram por provas e tiveram que lidar com seus medos, a coragem é uma virtude essencial à vida. Na busca pelo auto conhecimento percebemos nossos padrões de funcionamento, nossas crenças e a origem das mesmas. Perceber isso, não muda, efetivamente, nada, pois vivemos isso como uma verdade interna. Em outras palavras: nossas crenças, por mais irracionais que soem, são sentidas por nós como verdades.

    Porém, para “ir além” e mudar nossas crenças, precisamos questionar a verdade. No discurso contemporâneo isso parece muito lógico e qualquer pessoa dirá: “sim, vamos fazê-lo”. No entanto, na prática, isso não é tão simples assim. Quando alguém realmente questiona suas verdades, sente um medo profundo, justamente por estar fazendo isso. E é necessário coragem para enfrentar isso, pois não nos livramos do medo ao tomar uma ação diferente, apenas nos apegamos mais fortemente com a coragem.

    E porque coragem? Pelo simples fato de que, ao questionar nossas verdades não encontramos certezas do “lado de lá”, encontramos apenas um caminho novo, o qual não conhecemos. E aí, precisamos de mais coragem. Não se trata apenas de dar o primeiro passo, temos que dar o segundo, terceiro, quarto e ir adiante até que o novo caminho se torne parte de quem somos. Não basta ter uma atitude, é necessário incorporar isso em nossa mente, sentimento e ações.

    As pessoas querem se sentir seguras, confiantes e “donas de si” antes de darem os passos. Isso não acontece. Por isso a coragem é necessária. É como Freud diria, um “ato de fé”, ou seja, não temos garantia nenhuma de que as mudanças serão efetivamente boas, assim sendo, é impossível sentir segurança e confiança na mudança. Só podemos sentir isso depois de fazer o processo. Então o fato é que não temos nada e precisamos dar um passo ainda assim.

    “Se você não tem voz, grite. Se não tem pernas, corra. Se não tem esperança, invente”. Este trecho do espetáculo “Alegria” do Cirque du Soleil, pode trazer à tona este sentimento. Não temos “nada” (voz, pernas ou esperança), e com isso damos um passo à frente (gritamos, corremos, inventamos). Apenas a coragem é capaz de transformar nada em algo, apenas a busca é capaz de olhar para isso e apenas com o desejo pela alegria, enquanto satisfação, é que conseguimos ser bravos e corajosos, enquanto sentimos o medo mais profundo em nossos corações.

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