• 1 de maio de 2020

    Álcool e alegria

    – Mas e como que eu vou fazer daí?

    – Vai se divertir oras.

    – Mas sem beber?

    – Você não sabe fazer isso?

    – Ah, não sei… é estranho né?

    – Talvez, se você não sabe como se divertir sem álcool.

     

    Álcool e diversão, infelizmente, se tornam cada vez mais sinônimos. O problema é que não são. É óbvio – e ilusório negar – que o álcool libera as “barreiras morais” e que, por este motivo, muitas pessoas conseguem rir, flertar e se sociabilizar. Porém, o preço a ser pago por esta suposta competência é muito caro.

    Em primeiro lugar porque não é saudável estar alcoolizado o tempo todo. Logo, aquela pessoa que você conheceu – ou que te conheceu – na festa poderá ser um tanto diferente sem a “coragem líquida” nas veias. Outro ponto importante é porque existe uma ilusão de que o álcool permite as pessoas fazerem coisas que elas não conseguem fazer sóbrias. Mas o efeito real do álcool, não está em criar coragem ou em tornar a pessoa simpática, ele é um inibidor de barreiras morais. Em outras palavras: você tem a competência, apenas não acessa ela por motivos “morais”.

    Outro problema é que as pessoas ao estarem alcoolizadas aprendem um estilo de diversão muito restrito. Não é que as pessoas não se divirtam ao estarem alcoolizadas, mas o fato é que o tipo de estímulo e de divertimento se tornam diferentes. A tendência é que as respostas sejam mais exacerbadas, as decisões mais intempestivas. Aliado à uma noção alterada de realidade que pode variar muito de pessoa para pessoa. Assim sendo, a “diversão” do álcool é muito diferente daquela sóbria.

    Assim sendo as pessoas se “educam” a divertir-se desta maneira. O problema está na rigidez. Quando só se consegue divertir-se assim, estamos, na verdade, priorizando o estado mental causado pela embriagues e menos aquilo que é feito. Assim sendo, a diversão acaba se tornando estereotipada, rígida e limitada. A inventividade tende a diminuir, pois ela não é necessária com o uso de substância. Em contrapartida, os estímulos precisam se tornar mais evidentes afim de causarem algum impacto.

    O pior problema é que, em vários casos, as pessoas acabam se tornando dependentes. Aqui vale ressaltar que a dependência química não assume apenas uma forma. É comum ter a imagem da pessoa dependente de álcool, como alguém que passa o dia todo embriagada e não consegue conviver no trabalho. Este estereótipo, embora exista não é a única forma de dependência. O típico abusador de substância é tão dependente quanto o primeiro tipo, por exemplo.

    Este último é a pessoa que fica a semana toda sem beber, por exemplo, e nos finais de semana sempre abusa do álcool em festas ou até mesmo em casa. Embriagar-se é a única coisa que não conseguimos fazer sem álcool. As outras: divertir-se, socializar e flertar, por exemplo, são todas atividades em que o álcool não é necessário. Assim sendo, quando a pessoa “só consegue” com o álcool, é melhor se preocupar, pois este é um sinal de dependência.

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