• 13 de janeiro de 2020

    Antes de melhorar, piora

    – Akim eu sinto que estou dando uns passos para trás esses tempos.

    – O que te faz pensar isso?

    – Bem, eu tenho me sentido triste novamente sabe?

    – Sim.

    – Tenho visto que não consegui realizar todas as mudanças que preciso e isso me deixa meio para baixo.

    – Isso tem a ver com o que você percebeu nestas últimas semanas?

    – Sim… eu comecei a dar conta que o problema é um pouco mais embaixo sabe? Mas eu achava que estava indo bem, quer dizer, eu estou resolvendo muita coisa já.

    – Exato, por isso está conseguindo ver “mais embaixo”, entende?

    Muita gente não entende. Normal, afinal de contas, quando começamos a ter melhoras, esperamos que elas se mantenham e cresçam. Porém na terapia, as coisas ocorrem de forma diferente. Às vezes o que parece uma piora é, na verdade, um bom sinal de melhora. Suportar isso, com clareza de percepção nos ajuda a ir além.

    Para compreender isso é importante entender o conceito de “força”. Quanto mais a mente é “forte” e o ego bem estruturado, mais coisas ele consegue perceber e suportar de maneira consciente. Um ego frágil e desestruturado, não dá conta de ver muitas coisas. Ele dá conta do básico que é sobreviver, evitar a dor e buscar um pouco de prazer quando possível.  Assim sendo, muitas dúvidas, desejos, necessidades são empurradas para “debaixo do tapete”. A mente guarda essas informações no inconsciente, deixando elas longe da consciência.

    Quando a pessoa inicia um processo de terapia, ela pode tornar-se mais forte e aprender a estruturar melhor seu ego. Dar conta de emoções “negativas”, lidar com vários estados emocionais ao mesmo tempo, aceitar qualidades e defeitos, são alguns exemplos de como o ego se fortalece. Quando isso ocorre, a pessoa começa a resolver alguns de seus problemas imediatos, como dizer não para o que não deseja, evitar aquilo que lhe faz mal, buscar com mais convicção aquilo que lhe faz bem. Ela sente-se mais forte e competente. E isso é bom.

    Ao perceber-se mais forte, o ego pode ampliar seus horizontes internos. Assim sendo, todas as informações que ficavam, antes confinadas no inconsciente, agora podem surgir. Aos poucos, o ego se aventura dentro de si e começa a descobrir muitas coisas. Nem sempre elas são “positivas”, ou seja, nem sempre trazem prazer. Muitas vezes, na verdade, trazem dor e dificuldades. Essa percepção só é possível pelo fato do ego estar fortalecido. Sem esta força, ele não sairia do lugar, não buscaria ampliar seus horizontes.

    O ego forte pode buscar porque ele pode dar conta do “baque”. Isso é o que fez forte da primeira vez, inclusive: encarar o problema e resolvê-lo. Não se trata de ficar “buscando problemas”, mas sim de analisar as estruturas da mente. Nesse sentido a pessoa vai olhando para seus problemas em níveis diferentes. Aquele não que ela aprendeu a dar para um colega de trabalho, agora ela está tentando dar para uma crença limitante sua. É o mesmo tema, mas em níveis diferentes. A pessoa só dá conta de ir para outro nível quando deu conta dos outros.

    Então, é importante lembrar, para você que faz ou quer fazer terapia, que muitas vezes você sentirá que está dando passos para trás. Mas nem sempre isso é, de fato um passo para trás. Muitas vezes é um passo para frente que dói do mesmo jeito que doía quando você não sabia como lidar com seus problemas. Tenha isto em mente ao julgar determinadas emoções que surgirem ao longo de seu processo. Lembre-se: terapia é um processo e por isso nem sempre ela é linear.

    Abraço

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