• 6 de dezembro de 2017

    Aos homens, para se permitirem “dar um fora”

    – Mas Akim… como eu ia dizer “não”?

    – O que te fez dizer “sim”?

    – Ela era gata, tava ali “se jogando” pra cima de mim.

    – E?

    – Orra! Precisa mais?

    – Sim.

    – O que?

    – Você sabe.

    – Não acha muito radicalismo de sua parte dizer que eu tenho que “querer”?

    – Você acha?

    – Sim.

    – Então porque trouxe o tema para a sessão? Afinal se você “tecnicamente falando” “gostou”, deveria estar feliz e não incomodado.

    – Ah… sei lá sabe?

     

    Seja homem! Mas, o que é ser homem? Tarefa difícil de ser resolvida. Em parte essa resposta é buscada com base na quantidade de mulheres que um homem consegue pegar. Porém, essa resposta não ajuda muito. Na verdade, parece que apenas complica. A complicação se deve à uma distorção do que é o desejo do homem, um tema muito difícil de ser compreendido.

    Dizem que homem (neste artigo estou me referindo especificamente aos heterossexuais) que é homem gosta de mulher. Porém, gostar implica em cuidar ou ter uma atenção especial à algo. O gosto revela, assim, o desejo da pessoa em relação aquilo que gosta. Que homens gostam de mulher pode ser um fato, mas até que ponto o comportamento deles deixa evidente o seu desejo é questionável. Recebo em meu consultório, vários homens com uma distorção da percepção de seus desejos, associam a mulher e o ato de manter relações com elas muitos fatores que nada tem a ver com o desejo sexual propriamente dito.

    Dizer “não” a uma mulher que “dê em cima”, por exemplo é um escárnio para muitos homens. “Deu mole, tem que pegar”. A frase deixa evidente que o desejo do homem em si não conta nada. Em outras palavras: a mulher pode ter procurado o homem, mas ele, de fato, quer a mulher? Muitos homens me olham com indignação no olhar ou com uma expressão curiosa porque esta é uma “pergunta que não se faz”. “Deu mole, tem que pegar”. Este é um exemplo típico da distorção do desejo. Se faz crer que o homem “quer””pegar”, porque ele tem que fazer isso. A distorção é em relação ao ato sexual, de uma maneira bem crua: se a fêmea der indícios de que deseja acasalar, o macho deve fazê-lo.

    Isso priva os homens de se perguntarem se querem. E não porque a mulher era bonita ou feia, mas, em primeiro lugar, se ele está “querendo algo” naquele dia. Muitos homens que atendo se sentem aliviados e felizes quando conseguem sair sem a obrigação de terem que ficar com alguém. “Aproveitei a noite muito mais do que antes”, “me senti muito mais feliz comigo” são alguns dos relatos que ouço. Ao deixarem de lado a necessidade de se provarem homens, ele passam a se identificar com algo muito mais profundo: o seu próprio desejo.

    Quando o homem consegue acessar seu desejo sem distorcê-lo, se permite, enfim dizer: quero, não quero. É difícil fazer isso não apenas pela cultura que dita como deve ser o desejo do homem. Também o é, pelo fato de que emocionalmente e psicologicamente esta figura se torna parte da imaginação do homem. Em outras palavras: ele próprio passa a crer que se ele não quiser “pegar” uma mulher, ele deve estar com algum problema. É difícil ao homem, ainda, admitir que nem sempre está pronto para transar com uma mulher e mais difícil ainda dizer que em vários momentos, não quer.

    Porém é exatamente esta perspectiva que o liberta para viver aquilo que realmente quer. Ao invés de se pautar por regras, se pautar por aquilo que sente verdadeiramente. Na minha experiência, até hoje, vi pouquíssimos homens confortáveis em dizer “não” pelo simples fato de não desejarem. A noção de “bater a meta” ainda vigora, infelizmente. Assim, este post é um desejo de que os homens que o lerem possam se permitir dizer não, quando quiserem, para que o que “sim” se torne mais interessante. Retomando o que falei anteriormente, quando gostamos de algo cuidamos disso e de nosso desejo por isso. Assim sendo, olhar o ato de se envolver com uma mulher não como obrigação, mas sim como algo para você é fundamental para poder realmente gostar de estar com alguém.

    Abraço

     

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