• 11 de maio de 2020

    Aquilo que “já sabemos”

    – E eu queria saber o que você acha disso que te falei.

    – Não, você não quer.

    – Não quero? Mas estou dizendo que quero.

    – Você já sabe o que fazer com isso, eu te dar uma “opinião” não vai ajudar em nada. Tenho certeza que você já falou disso antes com outras pessoas ou até em outra terapia, não?

    – Sim.

    – E ajudou receber a opinião deles?

    – Não muito, pelo visto.

    – Pois é. Você já sabe o que fazer, já tem a sua opinião que é tudo o que interessa, no fundo. A questão me parece ser outra.

    – Qual?

    – Você vai aceitar isso que já sabe ou continuar fugindo disso?

     

    É comum que nossos maiores problemas não estejam tanto naquilo que não sabemos sobre nós, mas, sim, naquilo que sabemos e não desejamos aceitar. Este tipo de conhecimento pode gerar uma série infinita de fugas que nunca chegam à lugar nenhum.

    Não sabemos tudo sobre nós mesmos. Embora dizer isso possa soar um tanto triste, o fato é outro: embora não nos seja possível obter um conhecimento muito grande sobre nós, ele também não é necessário. Boa parte das pessoas acredita que “se conhecer” é ter a maior quantidade possível de dados sobre si, e enquanto não atingem isso, não fazem nada. Porém, o fato é outro: conhecer-se não significa coletar dados, mas sim percebê-los no momento em que eles são realmente importantes.

    A busca pelo autoconhecimento é sempre isso, uma busca. Ela nunca chega num ponto final. Assim sendo, coleções gigantes de dados são um tanto irrelevantes. Precisamos saber de alguns elementos importantes e estarmos atentos sobre como estamos usando estes dados em um dado momento de nossas vidas. E é  aí que entra o ponto deste post. Muitas vezes as pessoas já sabem daquilo que precisam. Mas tentam negar isso, afirmando que precisam de mais informações.

    A questão é: você se compromete com aquilo que percebe sobre você? Independente do que seja, a informação que nos surge sempre é aquilo que precisamos. Quando nos comprometemos com nosso saber e o usamos a nossa favor conseguimos dar passos mais largos do que quando ficamos tentando buscar “mais e mais” informações as quais se mostram redundantes e desnecessárias. O que você já faz com as informações que já tem? Esta pergunta é mais importante do que: o que você ainda precisa saber sobre você?

    Sempre cito Salvador Minuchin que dizia que todo o material importante para a terapia de uma pessoa é colocada na mesa nos cinco primeiros minutos de sessão. Aprendi a seguir o conselho dele e é muito verdadeiro. Às vezes alguns detalhes posteriores deixam o cenário final mais claro, porém, são apenas alguns detalhes. O fato é que não prestamos atenção ao que dizemos, nos enrolamos, buscamos outras explicações e fugimos dos comportamentos que podem nos fazer, realmente, mudar.

    Porém quando nos comprometemos com aquilo que já sabemos, mesmo que seja – de certo ponto de vista – pouco, este é o pouco que vai nos fazer ir longe. Não precisamos de muito para mudar, esta é a verdade. Quantidade de informações não é o mesmo que sabedoria em como usá-la. O DNA, por exemplo, é composto por apenas 4 elementos que se agrupam sempre em pares e veja a estrondosa complexidade que este “simples” mecanismo criou em nosso mundo! Então, ao invés de complicar, apenas ouça o que fala com atenção e carinho e, com certeza, poderá fazer muitas mudanças.

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