• 30 de junho de 2017

    As regras do corpo

    – Passei um final de semana maravilhoso.

    – Que ótimo!

    – Sim… fiz como falamos: me coloquei a escutar aquilo que eu precisava.

    – E?

    – Pude ouvir e agir de acordo com o ritmo do meu corpo.

    – Que maravilha!

    – Sim, mas daí venho para a cidade de novo e acaba tudo né?

    – O que acaba?

    – Ah, essa folia de ficar no meu ritmo.

    – Entendi… que pena que você deixou seus ritmos lá.

    – Mas não posso fazer tudo do jeito que eu quero aqui.

    – Não, não pode.

    – Então?

     

    Liberdade não é fazer tudo o que quero, quando quero. Isso é onipotência. Para convivermos com os ritmos de nosso corpo não precisamos ser onipotentes, mas, sim, conscientes daquilo que precisamos.

    Hoje em dia é muito comum a ideia de viver o ritmo do corpo. Não ter compromissos e poder sentir a vontade de fazer o que se quer fazer é uma prática deliciosa para sair do estresse. Este tipo de prática nos ajuda na integração com nosso eu, desejos e necessidades. Pode nos assustar um pouco também por não estarmos preparados para aquilo que nosso corpo deseja. Porém, há muito nessa prática que as pessoas desconhecem.

    Um dos elementos mais importantes é quando “voltamos para casa”. A maior parte das pessoas fica triste e diz: “bem, agora de volta à realidade”. O que, de um lado, é verdade, mas voltar ao real não significa deixar aquilo que se aprendeu para trás. O problema é que as pessoas focam no lugar e não no aprendizado que tiveram sobre si mesmas. Me dizem: “ah, Akim, mas isso não é o SPA, eu não posso ficar sem fazer nada esperando a vontade surgir”. Correto, muitas vezes “não pode” mesmo. Mas isso é o mesmo que invalidar toda a experiência?

    Não. Mas para manter a experiência conosco precisamos ir um pouco além da noção de ficar “no bem-bom”. Ocorre que quando vamos à um retiro, SPA ou lugar onde temos uma prática que nos coloca em contato com nosso corpo, precisamos estar atentos ao corpo e não ao lugar. Ao perceber seu corpo e como ele se energiza, por exemplo, você poderá levar “para casa” experiências e percepções sobre como alimentar e energizar seu corpo de uma forma diferente.

    A questão é se você registra aquilo que vive. Seguir os ritmos do corpo não significa fazer apenas aquilo que o corpo quer, na hora que quer. Significa conhecer como o corpo entra e sai de estados de desânimo, excitação, preguiça, energia, introspecção, expansão, e vários outros. Quando conhecemos bem estes estados ao ponto de identificá-los e unimos isso à percepção de como entrar e sair desses estados é que aprendemos a usar os ritmos (e limites) de nosso corpo.

    Desta forma, ao invés de abandonar o corpo ao voltar para casa a pergunta a ser feita é: como manter determinados estados (como animação ou introspecção) na minha rotina? De que maneira posso me aproximar disso e com quais limites? Até onde posso ir e quando realmente preciso sair de minha rotina a fim de me energizar adequadamente? Essas perguntas nos ajudam a prestar atenção ao que quero e à realidade ao mesmo tempo, percebendo o que é desejado e o que é possível. Isto é usar seu corpo com consciência, afinal de contas, a vida sempre nos coloca situações para testarmos o quanto sabemos usar o corpo que somos.

    Abraço

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