• 18 de setembro de 2020

    Como você quer que o mundo seja?

    – Eu nem sei se quero ir lá.

    – O que te faz ter dúvidas?

    – Ah… é que sei lá… vai que eu vou lá e não é nada disso que eu estou esperando?

    – Qual o problema com isso?

    – O problema… não sei direito… mas não sinto que… sei lá…

    – Os lugares tem que ser sempre o que você espera deles?

    – É… acho que é isso.

    – Torna-se difícil se abrir para algo novo então não é mesmo?

    – É…

     

    Expectativas são projeções que criamos sobre o mundo, as pessoas e até sobre nós. Criar expectativas é algo comum e até mesmo saudável para as pessoas, desde que elas saibam que uma expectativa é apenas isso: uma expectativa. O grande problema surge quando tomamos nossas expectativas pela realidade.

    Quando temos uma expectativa “cega”, por assim dizer, a frase que existe em nossa mente é: “o mundo é assim”. Então surgem as várias máximas que cada um de nós possui. O problema com estas máximas é que boa parte delas se evidencia vez ou outra. Em outras palavras: muitas vezes conseguimos “provar” que o mundo “é assim” do que jeito que pensamos que ele é. Porém, o que nossa mente não computa – e isso é muito importante também – são as vezes em que nossa tese falha ao teste da realidade, ou seja, quando o mundo nos prova que nossa tese é pequena demais.

    Uma das maneiras de lidar com isso é tratar cada pensamento de “como o mundo funciona” que temos usando outra frase: “quero que isso aconteça assim”. Esta segunda frase tem muitos efeitos sobre a nossa percepção do mundo. O primeiro deles é que ao invés de dizermos como o mundo funciona, a frase nos coloca em uma posição “mais humilde” e tratamos nosso desejo (ou expectativa) apenas como um desejo. Dizer como o mundo funciona é diferente de dizer o que eu quero do mundo. Essa frase deixa claro o nosso desejo como desejo.

    O segundo ponto é que, por fazer esta tradução, a frase também nos deixa aberto para olhar o mundo e ver o que virá dele. Assim não tratamos aquilo que vai contra a nossa percepção como algo absurdo, mas sim, como algo que ocorre. Também nos abre para reflexão: o que é importante nisso? O que é importante nisso desta maneira? Muitas vezes não nos percebemos de nossos desejos e nem daquilo que almejamos com eles. Tomar nosso desejo nas mãos também implica poder compreendê-lo mais profundamente.

    Assim sendo, é possível questionar nossa disposição sobre o mundo. Quando entendemos, por exemplo, porque algo é importante de certa forma, podemos nos abrir para maneiras diferentes de agir no mundo, ou, de outro lado, podemos aprender a confiar ainda mais naquilo que queremos ao perceber nossos valores dentro disso. Esse exercício nos faz criar expectativas de maneiras mais ricas e realistas. Sempre digo que o problema não está em criar expectativas, visto que todos fazemos isso. O problema está sempre em tomar a expectativa pela realidade.

    Tomar conta das expectativas significa compreender o que queremos com elas e o que torna importante que elas ocorram de determinada maneira. Às vezes é algo simples como: “não tinha pensado nisso antes” e pronto: novas portas se abrem. Por vezes é algo mais complexo que envolve traumas e valores arraigados na pessoa. De uma forma ou de outra, o ponto é que ao tomar para nós o nosso desejo como desejo e não como “a forma que o mundo deve ter”, podemos avaliar isso tudo e ir além.

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