• 20 de julho de 2020

    Eu aceito o meu medo da vida

    – Mas não é para ser assim Akim.

    – Porque não?

    – Eu estou pensando na minha vida, nos meus sonhos, porque eu sentiria medo?

    – O que há de errado nisso?

    – Que deveria ser bom!

    – Onde você assinou um contrato que dizia isso?

    – Não assinei.

    – Sinta o medo. Diga “sim” para ele. Que tal vê-lo ao invés de classificá-lo como inadequado?

     

    Pensar na “nossa vida”, em geral nos remete à algo positivo, pois queremos que nossa vida seja boa. Porém, ao olharmos para a vida tal como é, vemos que ela não é apenas algo prazeroso e “bom”, ela envolve várias emoções. Uma das menos reconhecidas é o medo que temos da vida em nós, porém, é uma das mais importantes.

    Ocorre que quando falamos em vida, também falamos em morte. É um ato corajoso assumir a vida, pois, ao fazê-lo, assumimos também todo o pacote que vem com ela. Essa é uma percepção importante. As pessoas, em geral, “aceitam” a vida apenas enquanto ela é uma promessa da realização – sem muito esforço – de seus sonhos e prazeres. Quando a vida se mostra tal como é, muitas dessas pessoas dizem “não” para a vida. Existe uma diferença entre a idealização do que a vida é e da vida em si. É sobre esta vida que falo neste post.

    Temos, com ela, o primeiro ponto: você não sabe quando ela acaba. Apenas aqui, muitas pessoas já dizem “não”. Conviver com isso nos dá medo de fazer escolhas, afinal, não sei se estarei vivo para ver o fim delas. Tememos esta incerteza. É algo natural. Hoje estamos tão afastados dessa sensação que ela não passa pela mente consciente, porém, ainda assim existe. Alguém comentou sobre um assassinato, certa vez: “veja só, morreu voltando para casa, que coisa”. Bem, existe um “lugar certo” para morrer, ou um momento? Não.

    Além disso a vida nos convoca para nos jogarmos em uma empreitada onde, se formos bem honestos, nunca sabemos ao certo onde irá nos levar. Aqui resta outra incerteza. Mesmo tendo as “melhores intenções”, não sabemos onde nossas escolhas vão nos levar ou se vamos ter o poder de realizar estas escolhas. O lugar para onde a vida vai é sempre uma incerteza. Aceitar essa vida com esta incerteza é outro ponto no qual muitos abrem mão da vida que tem.

    Porém, o “pior” ponto vem agora: responsabilidade. Apesar da vida ser apenas incertezas, ainda devo me responsabilizar por ela. Tomar consciência de que mesmo que me esforce, posso não conseguir o que é importante e ainda assim me responsabilizar por isso. Parece um absurdo. E é. Porém a vida é assim. Até aqui falei apenas sobre as necessidades que a vida nos traz. Essa é uma parte da vida da qual muitas pessoas não querem saber. Quando olham para isso dizem “não”, ao mesmo tempo que olham para os sonhos – já completos – e dizem “sim”. No fundo, o “não” é mais forte, porque um segue com o outro.

    A vida é incerta porque ela trata do futuro. A vida não olha para trás, ela não tem tempo para isso. Não se trata de negar as nossas origens, mas sim de saber que elas vieram para que nós continuemos a caminhada. A vida requer de nós, para mantê-la, temos que trabalhar em prol dela. O viver não trata de justiça, é o velho ditado: “a chuva cai para o justo e o injusto”. Assim sendo, o medo que temos da vida, é o medo que temos ao olhar para toda esta inconstância. Porém, ela é a vida. Alguns lhe dize “sim” e convivem com o medo. Outros dizem “não”. E sobrevivem.

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