• 31 de março de 2021

    “Eu falhei”

    – Mas e se não der certo?

    – Existe essa possibilidade não?

    – Sim.

    – E então, se der errado, vamos imaginar o cenário. Qual seria a primeira coisa que você se diria?

    – Eu falhei, sou um incompetente mesmo!

    – Ah, olhe que interessante isso. E ao pensar dessa forma, quais as consequências sobre o seu humor, por exemplo?

    – Ah eu me sentiria bem triste e deprimido, desiludido.

    – E isso iria motivar você a continuar perseguindo sua meta ou a desistir?

    – Desistir.

    – Ótimo, agora pense bem: apenas de pensar nisso aqui e agora, você sente vontade de ir adiante no seu projeto ou de dar um passo para trás?

    – Passo para trás.

    – Então veja que interessante, você nem começou, mas essa possibilidade, já lhe faz dar passos para trás. Agora vem a pergunta: de que forma dar passos para trás ajuda você a sentir confiante para dar passos para frente?

    – Não ajuda.

    – E ajuda a se sentir mais temeroso ainda não?

    – Sim.

     

    Quando algo dá errado, o que você diz para você mesmo? Tendemos a crer que os resultados definem nossas ações, se atingimos aquilo que queremos “deu certo”, se não, “deu errado”. Embora parte disso seja verdade, o fato é que a maneira pela qual interpretamos esses eventos é fundamental na continuidade da vida, além de revelar muito sobre nós mesmos.

    Aprender a lidar com nossas falhas é uma tarefa que se torna cada vez mais necessária. A tecnologia cria uma falsa esperança de que é possível viver uma vida apenas de sucessos, quando aliamos à isso noções morais de que falhar é errado ou que pessoas que falham são moralmente inferiores, temos o cenário perfeito para temer com todas as forças a terrível “falha”. Porém o fato é que falhar e errar são partes da vida de todos nós e aquela pessoa que nunca errou ou está mentindo ou não percebeu onde já cometeu erros.

    Não se trata, também, de fazer uma ode à negligência ou de achar que todos os erros “são ok”. Isso seria um erro também. O pensamento adequado em torno dos erros é encará-los, assim como encarar as consequências deles e fazer uma auto avaliação realista. O ponto mais difícil é evitar um julgamento moral sobre o erro. Acredito que um julgamento moral só tem causa justa e adequada quando o erro é fruto de negligência consciente e voluntária, mesmo assim, é importante ver de que maneira esse julgamento moral é útil.

    O erro ocorre quando eu sei como determinado processo funciona, já aprendi a usá-lo e, por algum motivo, não executei os passos de forma adequada. Quando algo “não dá certo”, isso pode ocorrer em detrimento de um ou vários erros da pessoa, mas também pode ocorrer por motivos completamente alheios à ela. Aprender a fazer essa diferença é importante para lidar com nossos erros. Conhecer nossos limites de comportamento e de ação nos ajuda a saber se precisamos de mais pessoas para nos ajudar por exemplo.

    Errar, no entanto, é diferente de “não saber”. Quando não sabemos o caminho para chegar à algum lugar, o que temos são resultados. É importante reconhecer quando não sabemos algo e que, para aprendermos, precisamos ir no formato “tentativa e erro”. Obviamente podemos juntar informações de terceiros, mas no fim a nossa experiência é sempre única. Neste sentido a pessoa está colhendo resultados e isso é diferente de “errar” pura e simplesmente, pois ela não conhece o caminho ainda.

    Aprender a avaliar nossos erros, então consiste em saber se erramos ou se estamos aprendendo. Se estou aprendendo, reconheço que determinado caminho não funcionou e tento outro. Se errei, corrijo o meu erro e me comprometo a fazer certo na próxima vez. Absorvo os revezes e lido com suas consequências buscando a melhor forma. Me permito sentir isso tudo, sem criar juízos de valor sobre eu mesmo (“sou burro”) e com isso, erro, aprendo e sigo adiante.

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