• 6 de maio de 2019

    Eu me prendi, e agora?

    – Eu me sinto preso nessa situação?

    – E como ocorreu a sua prisão?

    – Não sei direito… acho que o meu medo de enfrentar as situações, me faz prisioneiro delas.

    – Entendo, você sente que se aprisionou e, ao mesmo tempo, percebe que o medo lhe fez prisioneiro, é isso?

    – É meio confuso, mas sim.

    – Será que foi você quem se fez prisioneiro, o seu medo, ou será que isso tudo é apenas uma escolha que faz você “sentir-se como”, mas sem ser “de fato”, um prisioneiro?

    – Nunca pensei dessa forma.

     

    Sentir-se um prisioneiro é um sentimento comum para muitas pessoas. Porém, quando usamos esta linguagem complicamos a nossa situação para nós mesmos, pois concebemos o impossível: o fato de que nós nos prendemos.

    Afirmo acima que “concebemos o impossível”, porque o faço? Ora, o fato é que quando pensamos em prisão, temos em mente o ato de alguém que tem, como pena por algum crime, por exemplo, a privação de sua liberdade. Quando falamos em um agente externo executando esta tarefa, ela parece óbvia, visto que, um terceiro pode nos privar de nossa liberdade. Porém, quando afirmamos que nós o fazemos, o mesmo não pode ser aplicado.

    Se eu me prendo, significa que eu escolho fazê-lo. Porém se eu escolho me prender, mesmo que eu “jogue a chave fora”, isso é o fruto de uma escolha e não de uma privação imposta. Sendo assim é impossível “nos prender” à algo. Escolhemos nos manter próximos à, ou dentro de uma determinada situação. Assim sendo, o primeiro passo quando nos percebemos presos à algo é retomar a nossa responsabilidade  diante das escolhas que fizemos.

    Embora o sentimento seja de estar preso, o fato é que escolhemos agir de forma que “parece como” uma prisão. Alguém que acredita, por exemplo, que precisa fazer o que o outro quer para que este não o deixe. Em determinado momento essas pessoas dizem que sentem-se presas na relação. Porém, o fato é que enquanto pensam que precisam fazer o que o outro quer para se manterem na relação, agem de uma maneira que cerceia seus desejos pessoais e quando isso se torna “crônico”, sentem-se presas.

    Perceba que estou fazendo uma diferenciação entre estar preso “de fato” e “sentir-se preso”. Esta é a confusão que muitas pessoas fazem. Sentir-se de uma determinada maneira, implica em uma forma de perceber determinada situação. O sentimento de estar preso, envolve a percepção de “não ter saída”, de “ter que fazer” as coisas de determinada forma – e apenas dessa forma. E muitas vezes essas percepções são inadequadas.

    Em geral, elas surgem na infância, quando a pessoa “de fato” não tem muita saída. Nesta época a criança precisa obedecer aos pais, cresce e acredita que precisa continuar obedecendo, que é incapaz de fazer algo por si só ou de encontrar pessoas boas para se relacionar. Assim sendo, sente-se presa “ao que encontra” e sente medo de perder. Porém se a pessoa perceber que pode fazer algo diferente e interferir nos resultados que obtém, ela pode, também, mudar o seu sentimento de prisioneira da própria vida.

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