• 19 de fevereiro de 2020

    Evitando conflitos

    – Mas é que sabe o que é Akim?

    – O que é?

    – É que… bem… eu não quero, não gosto de parecer meio chato e arrogante.

    – Mas quer… gosta de parecer meio triste e sem vida?

    – É…

    – O que é, realmente?

    – Eu não gosto de brigar.

    – Sim. Agora, pense um pouco. Quem você seria se brigasse?

    – Quem eu seria?

    – Sim.

    – Boa pergunta… não sei dizer… não consigo me ver como uma pessoa briguenta.

    – Sim, e isso é um problema!

    Muitas pessoas evitam conflitos. Sob certa ótica, não é errado evitar uma situação desnecessária. Porém quando os conflitos fazem parte de nossa evolução pessoal, evitá-los não nos ajuda. Um tema central sobre a evitação de conflitos reside na auto imagem de quem tem este comportamento. Em geral, o desejo de ser “bom”, atrapalha.

    Nenhum comportamento é inadequado por si só. Tudo está dentro de um contexto. Evitar uma situação desnecessária, que não me trará muitos benefícios e vai me exigir um custo alto é adequado, sábio até. Porém, quando nos encontramos em situações nas quais evitar o conflito também significa abrir mão de nosso ponto de vista, alegria, bem estar ou ter atitudes que sejam contrárias à tudo isso, vale a pena rever o seu conceito de “conflito”. Ou melhor, seu auto conceito.

    Em geral, somos educados a achar que brigas, agressividade e magoar os outros são coisas erradas “por si só”. Novamente, depende do contexto. É muito comum que, ao darmos limites adequados à pessoas muito mimadas, elas sintam-se magoadas conosco. A mágoa, neste caso, um mero sinal da imaturidade da pessoa. E então, magoar é necessariamente ruim? Em outro exemplo, muitas vezes os pais dizem não aos filhos como meio de educá-los. Estes, sentem-se magoados com os pais pelo “não” recebido, em geral, apenas anos mais tarde vão entender. Novamente: magoar é necessariamente ruim?

    Não, não é. Porém, aprendemos que não devemos fazer isso. Assim, criamos uma auto imagem em torno dessa ideia: “eu sou alguém que não magoa as pessoas”. E tentamos viver de acordo com esta noção. A auto imagem tende a se concretizar. Porém, esta “máxima”, não é funcional em todas as situações. Assim, quando temos uma situação na qual precisamos magoar alguém para não nos magoar, tendemos a obedecer a auto imagem. Abrir mão desta auto imagem, é tornar-se mais humano.

    Porque “mais humano”? Porque humanos tem limites. Todos nós suportamos apenas algumas coisas e não todas. Assim sendo, quando nos sujeitamos à imagem de “ser alguém que não fere ninguém”, nos colocamos um limite desumano. Fatalmente você irá magoar alguém seja por ação ou por falta dela (o que sempre acontece com quem não quer criar conflitos: acaba criando um conflito grande por não ter enfrentado alguns menores). Neste sentido, tentar manter esta ideia de “nunca vou ferir ninguém” é enganar-se.

    O paradoxo reside no fato de que quem realmente enfrenta os conflitos aprende com eles. Ao desenvolver uma percepção nítida sobre seus limites, habilidades para lidar com as pessoas, aquele que enfrenta os problemas aprende a ser um bom solucionador deles. Termina por ser uma pessoa menos explosiva e mais compreensiva do que aqueles que “não querem ferir ninguém”. Aceitar nossos limites nos faz compreender que não conseguimos baixar a cabeça para tudo sem um custo e, algumas vezes, se formos realmente honestos, não estamos dispostos a pagar este preço, mas que a consequência seja uma cara feia.

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