• 6 de maio de 2020

    Momentos de ação

    – Mas sabe, é que eu preciso entender melhor o que fazer.

    – E o que há para ser entendido melhor?

    – Não sei.

    – Pois é, eu também não. De fato, não sei se há algo a ser entendido além do que já foi compreendido até aqui.

    – Mas será que eu não estou agindo de forma impulsiva?

    – Bem, depois de refletir sobre isso ao longo de todo o ano, acho muito  difícil definir como “impulsiva” a sua ação.

    – Verdade… e…

    – Você tem medo de agir?

    – Sim.

    – Ótimo, fique apenas com isso.

     

    As pessoas buscam terapia para realizarem mudanças em suas vidas. A mudança, no entanto, exige em determinado momento a ação concreta. Nestes momentos os atos de pensar, refletir e se preparar não são mais necessários, a pessoa já sabe o que fazer, ela tem, apenas a decisão de fazer ou não.

    Muitos terapeutas sabem reconhecer o momento no qual seus clientes fazem uma regressão “voluntária” afim de não agirem de forma diferente. Voltam a trazer problemas que já foram resolvidos, querem “ir mais fundo” sobre um assunto o qual não tem mais nada a ser entendido ou então “criam” dúvidas sobre seus “reais propósitos”. Com estas manobras visam apenas um fim: evitar o confronto com a realidade, evitar o novo comportamento que já sabem que deve ser executado.

    Não é a toa que isso ocorre. Medo, insegurança, anos de condicionamento na direção oposta se somam para fazer o “momento da virada” parecer sempre mais perigoso do que realmente é. Mutias pessoas em consultório relatam isso. Dizem que o ato em si foi muito mais fácil do que o medo que sentiam antes de fazer. A questão é que chega um ponto na terapia em que novos atos precisam surgir. Quando digo ato, pode-se entender isso tanto como ato físico, externo e observável quanto atos internos como pensamentos.

    Não há o que fazer diante do medo. Mas isso não significa dizer que você não poderá realizar a mudança desejada. Apenas que dizer que em momentos de ação, temos, muitas vezes, que ir com medo mesmo. A questão é que junto com o medo, a pessoa também pode focar na convicção que ela tem da necessidade da mudança, do que mudar representa para ela e do que ela está realmente querendo ao executar uma mudança como essa.

    Este foco naquilo que é desejado nos ajuda a ir com o medo, mas não se trata de uma fórmula para deixar tudo “mais fácil”, não, se trata apenas de encontrar a “força necessária para agir”. As pessoas esperam que com a terapia elas vão deixar de sentir algo e, apenas quando isso ocorrer, vão agir diferente. Terapia não ajuda você a sentir menos, ajuda você a sentir mais, justamente para ver o que te faz sentir o que sente. E com isso ela melhora o foco de ação.

    Então, o momento de agir sempre virá com uma dose de tensão ou então com algum tipo de medo. É uma mudança afinal de contas! E as boas mudanças são as que mexem com a gente. Se não fosse assim, não valeria a pena mudar. Pense em uma história de superação pessoal em que a pessoa diz “não senti nada, apenas fui fazendo e hoje estou aqui”… poderíamos completar: “ainda sem sentir nada”. Agir diferente pode ser difícil porque algo pode dar errado, mas manter-se no mesmo curso de ação é a certeza de que algo dará errado.

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