• 14 de fevereiro de 2020

    Não deu certo? Faça de novo!

    – Mas Akim, não pode ser assim!

    – Porque não?

    – Eu não sei direito… mas não faz sentido!

    – Sentido faz, agora, talvez isso seja diferente da história que você sempre contou para você.

    – É… pensando assim… eu nunca imaginei que, na verdade, o problema era eu nunca falar nada.

    – Pois é, sempre imaginou que os outros deveriam adivinhar, mas veja, eu, enquanto psicólogo estou te ouvindo faz um tempo e não poderia adivinhar o que você me contou!

    – É… verdade…

    – Que tal parar de ficar querendo achar que os outros tem que adivinhar o que você pensa e começar a falar? Esse, me parece é um problema de verdade.

    – Pois é…

    O esforço é uma qualidade notável e importante. Porém, o esforço, por si só, não é importante, ele precisa estar dentro do contexto certo. Se não está, corremos o risco de dar “murro em ponta de faca” e só causarmos (ou aprofundarmos) nossas feridas no processo.

    Quando temos uma situação na qual o objetivo é claro e realmente nos ajuda a chegar onde queremos, onde as técnicas para atingir o objetivo são claras e se provaram funcionais, o esforço vale a pena. Às vezes precisamos apenas disso para ter uma vida mais feliz ou atingir um determinado fim. Deixar a preguiça de lado e ir fazer aquilo que temos para fazer. Porém, se você não se encontra nessa situação, o seu “esforço” pode, na verdade, ser apenas uma forma de tapar o sol com a peneira, uma defesa ou simplesmente um objetivo que não está muito claro ou que não é funcional.

    Estas são as situações pelas quais a maior parte das pessoas procura terapia. Em geral, tentaram fazer muitas coisas para resolver ou “acabar” com um problema e não conseguiram. É muito importante ver, nestes casos se a premissa das ações que a pessoa tomou está, de verdade, “certa”. Muitas pessoas, por exemplo, procuram terapia para “deixar de sentir” determinada emoção. Esta é uma premissa que dificilmente será útil, porque, a não que se faça uma intervenção cirúrgica, o ser humano sente emoções. Deixar de sentir não é uma opção, aprender o que fazer com o sentimento, sim.

    Acontece que em geral, temos uma noção de que é errado sentir dor emocional ou mesmo ter problemas. Então, passamos a crer que isso é a origem de nossos problemas e passamos a querer tirar isso de nossas vidas. Não faz parte de nossa educação emocional saber que a tristeza, raiva ou medo são partes importantíssimas de nossa vida emocional. Sentir essas emoções é saudável e necessário, na verdade, faz bem. O problema das pessoas, em geral, não está nas emoções que surgem, mas sim em não ouvi-las.

    Ao ouvir aquilo que sentimos é possível compreender o que estamos fazendo com nossa vida. Assim sendo, podemos mergulhar na experiência que temos da vida ao invés da ideia que temos dela. Em geral, se a pessoa consegue fazer isso, consegue começar a perceber onde estão, de fato, os problemas (e as soluções). Contamos histórias sobre nós e nossos problemas. As histórias parecem fazer sentido quando as narramos para nós mesmos. Porém, isso nem sempre é verdade (quase nunca, na verdade). Uma forma simples de saber é: se a história que você se conta é de fato verdadeira, provavelmente você conseguirá resolver o seu problema.

    Então quando a pessoa passa a ouvir aquilo que deseja negar, se afasta um pouco da história que narra para si e assume a perspectiva da experiência. Então passa a coletar informações diferentes. Estas é que ajudam a pessoa a resolver o problema. Ao invés de negar a raiva, perguntar-se: o que move esta raiva? O que ela me diz? O que faço com isso? Estas perguntas são mais interessantes porque conectam a pessoa com a vida real e não com as histórias contadas pela mente.

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