• 9 de novembro de 2020

    Não gostar de rotina é não gostar de seus limites

    – Ah, mas eu já não aguento mais isso…

    – Sim, eu imagino.

    – Porque você imagina?

    – Pense nisso: você não me diz que o que está fazendo tem algo a ver com você. Ms continua fazendo.

    – Sim.

    – Não tem como aguentar isso por muito tempo tem?

    – É, verdade…

     

    Muitos odeiam rotina. Sentem-se prisioneiros de algo que não querem fazer. Esta é uma forma de se colocar no mundo. Em geral, a rotina testa nossos limites, se aceitamos os limites que temos e os levamos em consideração enquanto montamos uma rotina, tendemos a criar algo bom para nós. O contrário, porém, também é verdadeiro.

    O título deste post tem a ver com algo que ocorre muito na minha prática clínica. Muitas pessoas detestam suas rotinas e não é para menos, elas não tem absolutamente nada a ver com a pessoa, seus valores e seus limites pessoais. A rotina é uma atividade repetitiva e nós somos seres de repetição, todo o nosso organismo é programado de maneira que as mesmas tarefas ocorrem todos os dias nos mesmos momentos e de forma muito parecida. Porém as rotinas do corpo servem ao corpo, boa parte das rotinas que as pessoas criam, seguem algo que prejudica o corpo que somos.

    O fato das rotinas serem repetitivas nos leva à uma pergunta: dou conta disso durante anos, talvez a minha vida toda? Se a resposta para esta pergunta for “não”, pense em fazer outra coisa ou se dê um prazo concreto ao fim do qual você para de fazer a atividade. Isso porque se você não der conta da atividade é porque ela não é “ecológica” para você. E nisso, todos somos diferentes. O que é ecológico e fundamental para uma pessoa pode ser destrutivo para outra. Cada corpo segue movimentos e regras próprios.

    Porém, para perceber estas regras é necessário aceitá-las. Esta aceitação é o primeiro passo para conseguir entender o que seria uma rotina adequada para nós. O que se aceita, neste caso, são os limites que temos. Quando prestamos atenção aos nossos limites (as nossas “regras do jogo”) conseguimos traçar comportamentos e rotinas que nos beneficiam. Isso, ao contrário do que digam, não é algo que tem tanto a ver com condições financeiras, pelo contrário: conheço pessoas que justamente por terem um bom poder aquisitivo, se distanciam demais de seus limites, “porque eles podem”.

    Prestar atenção ao que nos dá energia e o que nos retira energia, por exemplo. Prestar atenção ao nosso ciclo de sono e fome, outro exemplo. Prestar atenção as atividade que convocam nossas forças e virtudes mais profundas e as colocam em ação. Todas essas percepções são simples e podem ser feitas por qualquer um. De posse disso, é possível criar pequenos hábitos que possuem, no longo prazo, um grande valor. Essa percepção é um grande sinal de auto conhecimento.

    O problema surge quando acreditamos que “rotina” trata apenas das atividades “grandes” que fazemos. Aquilo que colocamos na agenda. Não é apenas isso. Trata também de como fazemos isso, daquilo que pensamos ao acordar, da maneira pela qual nos sentamos para comer, do que aceitamos ou deixamos de aceitar em encontros com outras pessoas, daquilo que falamos e deixamos de falar. Tudo isso compõe uma rotina, não é apenas o que se faz, mas o como e, nisso, todos somos livres para escolher.

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