• 5 de fevereiro de 2021

    O medo da satisfação

    – Eu não sei… fico pensando que se eu “amolecer” vão me passar para trás.

    – Entendo, mas me diga o que é “amolecer”?

    – Ah, sabe, ficar sem fazer nada, se dar por “completo”, esse tipo de coisa.

    – Mas qual a diferença entre “ficar sem fazer nada” e sentir-se satisfeito?

    – Pra mim dá na mesma.

    – Se você almoça e “sacia a fome” dá no mesmo de dizer “não vou mais comer”?

    – Não, é diferente, depois a gente sente fome de novo né?

    – Você confia nisso?

    – Sim.

    – O que te leva, então, a não confiar que você pode desejar mais coisas depois de se saciar com o que já fez?

     

    Um erro fatal que muitas pessoas cometem é o de achar que, caso se sintam satisfeitas com seu desempenho, vão retroceder e frear sua evolução. O erro, comum, consiste em uma grande falta de conhecimento sobre a natureza das emoções, motivação e do sentimento de satisfação.

    A primeira confusão está em confundir o sentimento de satisfação com o de negligência. Negligência ocorre quando sabemos que precisamos fazer algo, podemos fazê-lo e não o fazemos. É uma atitude voluntária de dizer “não” para algo que precisamos fazer. Satisfação tem a ver com “curtir”a sensação de plenitude após ter um trabalho completado. Portanto, o sentimento de satisfação nunca poderá te levar à negligência, porque ele pressupõe que você terá feito algo antes de se satisfazer.

    “Ah, mas depois o cara pode se acomodar”, alguém poderá contestar. Aí a questão reside em compreender a motivação que leva a pessoa a fazer algo. A satisfação fala sobre algo pontual, ou seja, um determinado trabalho ou meta que foi concluído. Sentir a satisfação pelo trabalho, não impede que a motivação da pessoa pelo mesmo continue ativa. Pelo contrário a fortalece, na medida em que a pessoa sente-se capaz de realizar aquilo. O que ocorre – e isso nada tem a ver com a satisfação – é a soberba, na qual a pessoa toma um trabalho executado como prova de que não precisa mais fazer nada na vida.

    Esta atitude, porém, tem a ver com a soberba e não com a satisfação e revela as verdadeiras motivações da pessoa. Se a motivação da pessoa está ligada, de fato, ao seu crescimento, o sentimento de satisfação com aquela etapa naturalmente se transforma em combustível para a próxima. O pensamento: “bem, já fiz até aqui bem feito, agora quero ir mais um pouco além” surge sem forçar nada. Confiar nesse processo, porém, é outra história, muitas pessoas temem isso.

    E o fazem porque se acostumaram a sentir a pressão como uma força motivadora e não a satisfação. Aprenderam a associar a falta e correria com o sucesso e não o orgulho e a plenitude. Porém estas emoções não apenas também levam as pessoas para o sucesso, como o fazem sem o impacto que pressão causa. É possível crescer sem se matar no processo, com calma, suavidade e amor com você mesmo. Esta percepção, inclusive tem sido cada vez mais demonstrada por vários pesquisadores.

    Assim sendo, não tenha medo da satisfação. Apreciar uma boa obra e o efeito que ela causa em nós apenas nos abre o apetite para a próxima. Podemos confiar neste movimento, pois o seu contrário: a negligência e estagnação, são provocados por outras causas. Se o seu desejo pelo crescimento e desenvolvimento é genuíno e forte, você não precisa temer estagnar. Este medo é, até, paradoxal se você for pensar de maneira lógica. Relaxe e aproveite, deixe seu corpo digerir suas vitórias, pois isso será o alimento para as próximas conquistas!

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