• 9 de outubro de 2017

    O medo do futuro (ou o apego ao passado)

    – Mas eu tenho medo do que vai vir.

    – Entendo. Porque teme?

    – E se não der certo?

    – Então você terá uma nova situação e terá que lidar com ela. Algum problema com isso?

    – Não sei, mas acho que sim.

    – Claro que sim. Aí está o problema, percebe?

    – Não.

    – Olhe para o que você tem hoje. Está realmente disposto à arriscar? Ou o que você quer são garantias de que o futuro será igual ao presente?

    – Entendo.

     

    “Tenho medo do futuro”. Quantas vezes já ouvi esta frase em terapia. É algo da cultura humana temer o futuro, porém não é porque ele é “desconhecido”. O problema em relação ao futuro, por incrível que pareça, está com o passado. Quem tem muito medo do futuro, geralmente está andando de costas para ele, olhando para onde? Para o passado.

    Sabemos disso analisando como as pessoas que gostam do futuro o encaram. Pessoas que são avidas pelo que está por vir, não olham para trás, olham para frente. Aquilo que se passou, para elas é apenas passado. O que já foi está tão “perdido” quanto o futuro que ainda não aconteceu. É um ponto de vista realmente interessante, olhar aquilo que temos como algo “já perdido” por fazer parte do passado nos liberta. O contrário que é perceber naquilo que conquistamos a expressão máxima de nosso potencial, nos aprisiona. A partir disso inicia-se o “medo do futuro”.

    Ele nada mais é do que uma constatação da realidade. Pense consigo: você sabe que aquilo que conquistou ontem, por exemplo, já é passado. É óbvio que o dinheiro ganho ontem é importante e vai servir para pagar suas contas ou fazer o churrasco de final de semana. Porém, ele “já foi”, não adianta mais se apegar à ele. Se ganhei R$ 200 ontem, esse dinheiro não vai se multiplicar só de ficar olhando para ele. O mesmo vale para relações, conhecimento ou conquistas pessoais. Não adianta ficar em olhando elas ou temendo perdê-las, elas já ocorreram, agora, qual o próximo passo?

    Enquanto ficamos olhando para o que já foi, nos apegamos e desejamos permanecer. O desejo é de parar tudo e ter o futuro como garantido pelo passado. O futuro, porém, não se garante. O melhor que temos é a tentativa de construí-lo. Como? Com movimento. Com ação e não com estagnação. Quem tem problemas com este movimento é porque está apegado ao que conquistou. “E se não conseguir o mesmo resultado?” Percebem? É o apego ao que foi (ou ao que eu acho que “deve ser”) que torna o futuro problemático.

    Pessoas que lidam bem com o futuro não pensam nisso. Para elas não há “não deu certo”, os resultados são apenas resultados que vão guiá-las para novas estratégias caso sejam necessárias. O fato é que, mesmo que atinjam as metas propostas, essas pessoas não se apegam à elas. Elas aproveitam os louros e as conquistas. Comemoram e sentem-se realizadas, porém não se apegam apenas aquilo que já foi. Sabem que a comida ingerida hoje, alimenta, mas não alimenta para sempre, será necessário comer de novo, então, o que vou comer amanhã?

    Temer o futuro, então, significa apegar-se ao que está ocorrendo ou às conquistas passadas. A tentativa de manter essas coisas do jeito que são nos fazem olhar o futuro apenas como um potencial destruidor do “status quo” que tenho hoje. Porém, ao me desapegar, ou seja, aproveitar o que tenho e saber que isso nunca vai se manter para sempre (e que não é garantido que o que tenho hoje me faça feliz para todo o sempre), posso olhar para o amanhã com interesse. Esta é a troca. O amanhã fornece perdas potenciais ou ganhos potenciais? O medo do futuro é a primeira opção, o desejo por ele a segunda. Qual é a sua?

    Abraço

     

     

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