• 21 de dezembro de 2020

    O poder do pequeno

    – E eu preciso mudar entende?

    – Claro. A questão é como? Me diga, neste momento você se sente pronta para enfrentar tudo isso?

    – Não.

    – E o que você dá conta de fazer?

    – Mas não sei se isso é tão importante assim! Eu queria logo chegar e falar tudo!

    – Imagine você fazendo essas pequenas coisas e me diga como se sente com você mesma.

    – Me sinto bem.

    – Agora imagine você tendo estas atitudes todos os dias, durante dois meses. Sente-se bem consigo?

    – Sim, bem mais leve.

    – Agora me diga, de dentro desse cenário você sente que tem mais força ou menos força para ir “falar tudo”?

    – Mais força.

     

    Queremos grandes mudanças em nossas vidas, nos tornar uma “pessoa nova”. Porém, esquecemos, com isso, como uma pessoa nova é feita. Olhamos para aquilo que consideramos grandes mudanças e esquecemos de olhar para o que sustenta isso. Os pequenos ato são mais importantes do que podemos achar, sua frequência e inserção em nossas vidas fazem deles a grande mudança.

    Sempre que trabalho com meus clientes, mantenho o foco em pequenas atitudes que podem ajudá-los. Muitas vezes as pessoas chegam a terapia com “problemas grandes”: casamento, trabalho, filhos, depressão ou ansiedade. E o que esperam é resolver logo esses problemas. Mas como podem fazê-lo? As mudanças que precisam para resolver estes problemas, muitas vezes, são difíceis para eles de tomarem porque eles próprios se habituaram ao longo de anos com atitudes contrárias. Em outras palavras, nossos problemas são hábitos que nós mesmos criamos.

    Assim sendo, a mudança de atitude e comportamento se faz necessária, porém é difícil sair do consultório e começar a ter novas atitudes. Assim sendo, olhamos para o pequeno. Em geral, os hábitos e comportamentos que temos e que nos levam aos grandes problemas são amparados por pequenos comportamentos que temos no dia a dia, ou seja, estão ligados e, até mesmo, compõe o mesmo comportamento. Quando começamos a fazer mudanças “pequenas” nestes hábitos, ajudamos a pessoa a construir o substrato para realizar uma mudança “grande”.

    Então, se alguém se sente mal na relação porque o conjugue não o trata bem e essa pessoa aceita isso, uma mudança “radical” poderia ser o confronto, mas nem sempre a pessoa está preparada para isso. Em geral, depois de ser mal tratada ela deixa de lado suas tarefas, chora e começa a comer – o que lhe dá algum sobrepeso – se desmotiva para sair de casa e fica assistindo televisão. Então, olhamos para isso e buscamos organizar novas tendências: ora deixar as tarefas de lado é uma segunda punição, como pode fazer para manter suas tarefas cumpridas (ao invés de sentir-se mal consigo depois?)

    Ainda no caso acima, manter vínculos e pedir auxílio ao invés de afastar-se deles, praticar exercícios ao invés de se afundar no sorvete. E tudo isso, sempre focando os valores que a pessoa já possui e aquilo que considera bom para si mesmas. Mudanças nestes hábitos fortalecem a pessoa e a fazem sentir-se pronta para dar o próximo passo que seria, por exemplo, confrontar o conjugue, ou ter com essa pessoa uma conversa ou saber defender-se em uma briga. O pequeno dá substrato para o grande ocorrer. Eles organizam nossa vida e nossa identidade para que nossos valores possam florescer.

    Por este motivo é que os pequenos hábitos e comportamentos são tão importantes. É neles que aplicamos nossos valores com maior frequência e, com isso, colhemos recompensas emocionais também com mais frequência. Isso gera um “banco emocional” de saldo positivo que nos impulsiona para buscar mais comportamentos saudáveis para nós e com mais confiança. E então as grandes mudanças começam a se tornar óbvias e muito desejadas ao invés de temidas, que é o caso de quando as pessoas não estão em paz com o pequeno.

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