• 3 de agosto de 2020

    O que deveria ser e o que é

    – E daí eu simplesmente fui embora.

    – Porque? Não entendi.

    – Ora Akim, eu estava lá já fazia um bom tempo e nada da parte dele.

    – Nada? Hum… me diga, você deixou claro qual era a sua expectativa? Porque não me parece.

    – Ah! Ele tem que saber dessas coisas!

    – Hum… quantas vezes você já pensou isso e se frustrou? Eu sei que não é a décima vez.

    – Ah… é difícil para mim, eu acho que as pessoas tem que saber… tem que ter o mínimo de…

    – … de bola de cristal?

    – (risos)

     

    Muitas vezes lutamos contra algo que não queremos aceitar. O problema com este tipo de atitude é que ela sempre se foca naquilo que queremos sem ter em consideração aquilo que é realmente possível, ou até mesmo desejável. Neste sentido, o nosso “desejo” nos torna prisioneiros de nós mesmos.

    É um fato que o desejo é algo importante para o ser humano. Desejar algo e buscar isso faz parte de nossa vida e saúde mental. Porém, dizer isso, por si só, não coloca o desejo, aquilo que é desejado e o próprio ato de desejar em um pedestal. Este fenômeno possui uma etiologia e, por este motivo, trata de mais uma função da vida humana. Assim sendo possui seus limites e motivações, quando não compreendemos isso, podemos nos entregar erroneamente à ele.

    A diferença entre o que é e o que deveria ser é uma dessas situações. Temos, de um lado, o desejo da mente sobre como as coisas do mundo deveriam estar organizada, em qual ordem deveriam estar ocorrendo e qual o efeito que deveriam causar. Porém, ao nos apegarmos à esta percepção do mundo, nos esquecemos de olhar para a realidade e ver se nosso desejo é aplicável ou possível. Quando a pessoa se apega às ideias que possui do mundo, frequentemente, se esquece de ver as coisas tal como são. Procura, então, criar o mundo tal como ele é em sua mente, mas quando a realidade mostra que isso não é possível, se criam conflitos.

    Essa forma de viver não se aplica apenas ao mundo externo, o mundo interno também pode ser alvo de “como as coisas deveriam ser”. Assim sendo, ao perceber-se a pessoa contrasta o que vê com sua imagem de como deveria ser. Todos passam por isso em relação à algo, isso não é problemático por si só, mas, sim, quando limita a ação da pessoa no mundo e em relação à sua própria experiência. Um exemplo é quando a pessoa sente tristeza, por exemplo, mas em sua imagem interna, ela se pune, pois acredita que pessoas “fortes” não se sentem tristes.

    Este tipo de atitude também pode ser aplicada ao mundo, conforme já falei. Uma atitude comum nas relações interpessoais é quando uma pessoa, por não ter boas habilidades de comunicação, acha que os outros devem saber o que se passa dentro dela. Elas não comunicam o que precisam ou querem e esperam que os outros descubram. Frustradas quando isso não acontece, se distanciam das relações ao invés de questionar a sua maneira de percebê-las.

    Então, se você tem uma percepção pré concebida sobre algo (e todos temos) é importante de abrir-se ao mundo tal como é. Olhar para ver se isso que você quer ou pensa sobre si e sobre o mundo realmente é algo que pode acontecer, se é algo que acontece apenas em determinadas situações, ou se é algo que não ocorre (por mais frustrante que isso possa ser). Isso vai ajudar você a olhar com mais realismo para o mundo e ver que é possível aprender novas formas de lidar com este universo interno e externo.

    Abraço

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