• 8 de fevereiro de 2021

    O que os outros vão pensar?

    – Mas é que…

    – O que?

    – Não sei… fico pensando no que vão pensar de mim sabe?

    – Ah sim, entendo. O que você teme que pensem de você?

    – Não sei direito… mas tenho medo do que vão pensar.

    – Quando pensa nisso, que reação acha que eles podem ter?

    – Não sei… se afastar de mim, talvez.

     

    O medo do que os outros vão pensar é um medo comum e até mesmo adaptativo em nossa espécie. Porém, aprender a lidar com isso é importante afim de resolver mal entendidos e também como forma de manifestar nossa identidade.

    Em outros tempos, andávamos em bandos, depois em pequenas comunidades. Boa parte da existência humana foi vivida em lugarejos e cidades pequenas. As emoções sociais e maneiras pelas quais lidamos com este tipo de questões se formaram nessa época. Compreender isso é importante, porque nossas emoções sociais não foram “projetadas” para grandes cidades como as que temos hoje e sim para os pequenos grupos sociais de centenas e poucos milhares de pessoas.

    Assim sendo, o medo do que os outros vão pensar, significa de forma geral, medo de exclusão ou de possível diminuição de convívio social com outras pessoas. Este medo preveniu muitas pessoas de serem linchadas por suas opiniões, expulsas de reinados e até mesmo mortas. É, como disse acima, adaptativo. Porém o mesmo medo também se mostra de forma superlativa quando temos situações nas quais podemos migrar entre grupos ou até mesmo nas quais a solidão e exclusão do grupo é preferível ao seu pertencimento.

    Assim sendo, é importante em primeiro lugar, reconhecer nosso desejo de se manter dentro dos grupos. Com isso conseguimos lidar diretamente com o desejo de pertencimento. Esse deve ser levado muito a sério. Tão a sério que devemos nos perguntar: vale a pena pertencer à este grupo se não posso me expressar nele? Vale a pena manter estes amigos se preciso me machucar para continuar aqui? O pertencimento é um processo de longo prazo e, por este motivo, precisamos verificar se “os outros” aos quais queremos pertencer realmente são uma boa escolha.

    Não se trata de ver os outros como um produto, mas sim de verificar a possibilidade da convivência. Isso porque a exclusão também teve boas repercussões no passado. Alguns grupos, pessoas ou características excluídas acabaram se agrupando e dando origem a novos grupos. Isso se facilitou hoje em dia e se ampliou, assim sendo o fato de podermos ser excluídos de um grupo, pode significar, simplesmente, que não nos daríamos muito bem ali. Mudar, neste sentido, pode ser bom. Ser excluído, é o que pode significar ser incluído em outro lugar.

    Aprender a lidar com o medo da opinião dos outros envolve perceber-se como desejoso de companhia, pertencimento e atenção. Com isso, podemos olhar de verdade para esse desejo e nos perguntar o que nós queremos com os outros. Trata-se de uma inversão do pensamento: o que eu vou pensar dos outros se eles não gostarem do que sou? Não no sentido de “revidar” o que seria infantil, mas de ver que se o pensamento do outro for muito aversivo em relação à quem você é, talvez o melhor a fazer seja buscar companhias mais interessantes.

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