• 24 de junho de 2020

    O que significa ter um pensamento rígido?

    – Eu não entendo quando eles me falam isso.

    – O que você não entende?

    – Falam que eu sou cabeça dura… mas daí o meu pai é igual

    – E ele é um cabeça dura?

    – Eu acho!

    – Então…

    – Eu não acho que eu sou igual à ele.

    – Você quer dizer que o conteúdo do que você pensa é diferente do dele?

    – Claro!

    – Mas e a forma?

     

    Quando se diz que alguém tem um pensamento rígido, é muito comum existir uma confusão entre o conteúdo do pensamento e a estrutura do pensamento. Porém, esta diferença é fundamental, porque é na forma pela qual a pessoa pensa que podemos perceber a rigidez e não necessariamente no conteúdo.

    Quando falamos em uma análise mais técnica, a palavra “rígida” tem uma acepção que não foca especificamente em algo que não muda, mas sim, em algo que funciona sempre da mesma maneira. Assim sendo a rigidez se dá mais pelo funcionamento do que pelo conteúdo. Em outras palavras, uma pessoa pode falar de vários assuntos e conhecer muitos pontos de vista e, no entanto, ser rígida em sua maneira de pensar e viver. O oposto, alguém com pouca visão de mundo pode ser uma pessoa “mais aberta”, porque o importante é o funcionamento.

    A rigidez, de certa forma, se marca através do medo. E isso não significa que a pessoa tem medo do assunto, como muitos costumam pensar. O medo está na mudança de atitude e na flexibilização,, seja o assunto o qual for. O rígido não flexibiliza ao se mostrarem evidência, não porque ele seja cego a elas ou porque ele não consegue compreendê-las, mas porque o ato de mudar a opinião e flexibilizar o assusta. O medo, no entanto, não deve caracterizar o rígido como covarde, algo que eles, em geral, não são.

    O medo advém de relações aprendidas desde cedo com família e amigos. O rígido possui medo de ser traído, a traição foi um evento marcante em sua vida várias vezes e  o fez aprender a entrincheirar-se como forma de proteção. Assim sendo, quando falo sobre o medo profundo que o rígido possui é importante lembrar que este medo é psíquico e relacionado com fenômenos anteriores aos conteúdos. O maior medo quando se fala em alguém rígido é de perder-se. Como muitas vezes escuto: “se eu fizer isso, não sou eu”.

    Existe o que se chama de fusão identidade pensamento, ou seja, eu sou o que penso. E porque essa defesa funciona? Porque ali, nisto que a pessoa escolhe para acreditar e viver é que se encontra algo em que ela (acredita que) pode confiar. As recusas em mudar um ponto de vista ou experimentar algo diferente do rígido não tem nada a ver com a situação presente, o medo latente em sua mente é de que ao abrir a guarda alguém vira – tal como ocorreu com César – esfaqueá-lo pelas costas.

    Portanto, quando conversamos com uma pessoa que tem uma estrutura de pensamento rígida, é importante levar isso em consideração. A busca desenfreado de encher a pessoa de dados para convencê-la reflete apenas a nossa necessidade de vê-la ter um ponto de vista diferente e não a necessidade dela em ser realmente aceita como é e poder confiar em alguém. Tentar convencer um rígido é, na verdade, um abuso, pois o obriga a despir-se da única coisa que ele realmente confia: sua estrutura.

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