• 22 de fevereiro de 2021

    O tempo

    – Ah Akim, não dá tempo para isso tudo.

    – Sim, eu sei.

    – Então como que você me diz para fazer tudo?

    – Justamente por isso.

    – Porque não dá?

    – Exato.

    – Não entendi.

    – Veja, eu sei que não dá para fazer tudo isso e você também sabe. Porém, você aceita isso ou continua se cobrando para fazer tudo?

    – Continuo me cobrando.

    – Então, estou imitando o que você faz com você. Não dá, mas você não aceita abrir mão de nada aceita?

    – Não… é difícil pra mim lidar com isso… limites né?

    – Pois é.

    Se formos pensar em nossa sociedade atual, poderíamos dizer que “falta de tempo” é uma frase que todos já disseram em algum momento. Nossa relação com o tempo, porém, é fundamental para sabermos se realmente nos falta tempo, organização ou se o que está ocorrendo é falta de foco.

    Mesmo sem relógios, sentimos o tempo. Percebemos os momentos dentro dos quais a vida existe. O tempo medido através dos grandes movimentos da natureza (dia, noite, estações do ano) são mais amplos, o tempo medido pelos segundos do relógio são diminutos. Cada qual possui um valor adequado à nossa sobrevivência e organização. Perceber o tempo é também orientar-se no espaço e nas ações. A compreensão de que nossa vida é orientada por ritmos tanto internos quanto externos é fundamental para conseguirmos administrar nossa existência.

    A relação que desenvolvemos com o tempo, porém, pode ser muito variada. É possível sentir o tempo como um aliado na organização do dia a dia ou como uma “prisão dos segundos”. A questão é se o uso do tempo está relacionada com atividades que sejam vistas pela pessoa como essenciais. Quando a pessoa possui uma rotina corrida, porém repleta de significado, o relógio pode ser visto como um aliado. Porém, quando a vida está dissociada de sua essência, ter os dias livres é sentido como “perda de tempo”.

    Tempo é quando algo acontece. Assim sendo, “o que acontece” é fundamental para sabermos se estamos “ganhando” tempo, “perdendo” ou “desperdiçando”. Essas metáforas muito usadas em nosso dia a dia, são interessantes, porque supõe o tempo como algo que possuímos, porém, não o detemos em nossas mãos. O tempo é como a onda no mar, ela virá independente de estarmos lá para pegá-la e, se estamos, nós a surfamos, não decidimos como ela vem. Estar atento à nós é, portanto, aquilo que define se vamos surfar bem o tempo ou se vamos deixar a onda passar.

    Não há perda, porque o tempo não nos pertence. Tratar o tempo como um recurso é algo útil do ponto de vista de organização da vida, porém é sempre importante lembrar que não somos donos de nosso tempo, somos donos de nossas atitudes e estas denotam tempo para acontecerem. Somos donos da competência para pegar a onde e surfá-la, mas não em definir como a onda deverá ser. A maneira pela qual vivemos o nosso tempo é a maneira pela qual vivemos nossas atitudes.

    As pessoas que “tem tempo” em geral tem um foco muito preciso do que querem, selecionam bem as atividades que lhes agregam e apenas essa, reservam espaços de tempo para refletir e contemplar – sim ficam “sem fazer nada” – e usam sua energia quando percebem que é o momento certo para fazê-lo. A relação com o tempo se torna orgânica quando está vinculada ao que nos é mais importante e essencial. Na medida em que levamos a sério o nosso desejo, nosso tempo também passa a cooperar a nosso favor.

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