• 6 de agosto de 2016

    Pikachu, eu escolho você!

    A grande notícia da semana, a meu ver, não foram as Olimpíadas, mas sim a revolução causada pelo jogo Pokemon Go.

    Em Curitiba, o hospital Pequeno Príncipe foi invadido por jogadores. Eles buscavam pelos seres virtuais em meio a lugares exclusivos para treinamento médico. O hospital, solicitou aos jogadores que se retirassem e, pelo que parece, irá abrir processo contra a empresa que criou o jogo assim como pedir que o hospital seja retirado do mapa de Pokemon Go.

    Não entrarei no mérito de eles estarem certos, errados se é ou não compreensível porque eles fizeram isso. Acredito que a discussão mais importante está um passo atrás: onde está o jogador de Pokemon Go? Qual o mundo que ele está habitando: aquele que aparece na tela de seu celular ou este aqui onde existem hospitais?

    Ouso dizer: nos dois. O jogo da maneira pela qual foi estruturado rompe com os limites entre o virtual e o real e o faz de maneira excelente: mesclando os dois.Nos video games tradicionais a tela de projeção criava o limite bem estabelecido entre um universo e outro. Mesmo os óculos de realidade virtual, quando retirados, mostravam onde você estava, os jogos como kinect, embora você se movimentasse, precisava da tela para ver o que acontecia, novamente, um limite bem estabelecido.

    Mas com a tela do seu celular lhe mostrando que naquele banco de praça há um pokemon, o limite se perde. O jogo necessita da realidade onde projeta seus monstrinhos, a realidade se transforma nos olhos do jogador que vê nela estes seres. Literalmente temos dois mundos em apenas um (ou seria um mundo em dois?). Enquanto os video games tradicionais usavam telas de computador, televisão a tela do celular é apenas um artifício com o qual ver a realidade (qual delas, difícil dizer).

    Se você está “do lado de cá”, e alguém chega, do seu lado, para capturar um pokemon, a ação lembra uma pessoa alucinando. Ela literalmente vê, ali, algo que não existe. Porém, “não existe” se você não está no jogo. Este “se” é fundamental, porque o jogo, em si, é real, a informação está lá, se eu olhar o celular de um colega com o jogo, irei ver o pokemon, uma vantagem que a pessoa que alucina não possui.

    Caso você pense “ah, mas é só um jogo”, pense novamente: imagine que capturar os pokemons se torne (como imagino que irá acontecer), uma forma de ganhar dinheiro. Se isso ocorrer, aquelas “alucinações” se tornaram concretas o suficiente para pagar um aluguel. Neste caso, se alguém lhe disser que há um pokemon do seu lado, quem sabe ao invés de olhar com desdém, você pense: “puxa e eu precisando de um extra para o fim do mês”.

    O jogo esbarra na realidade. O virtual toca o real. É o primeiro jogo que faz as pessoas sairem de casa e interagirem com o mundo de fato. Não se trata de um mapa gerado dentro das telas de um computador, a realidade é necessária para o jogo e é nisso que há um rompimento com os limites do real e virtual. Para aqueles que assistiram o anime no qual o jogo é baseado, este deve ser um momento de excitação, pois, é quase como se eles pudessem realmente penetrar naquele desenho animado. A criação de uma realidade dentro do real é o verdadeiro triunfo tecnológico deste jogo engenhoso e, ao mesmo tempo, o desafio perceptual, um exercício de realidade.

    A questão que resta para psicólogos, sociólogos e sociedade em geral é saber se os jogadores conseguirão desenvolver uma relação saudável com esta nova realidade. Lembro do filme “Constantine” em que ele dizia que céu e inferno existem no mesmo plano da terra, o “mundo atrás do mundo, nós estamos no meio”, afirma o herói. Estaremos “nós” (aqueles que não jogam o jogo), neste momento no meio de duas realidades: aquela que conhecemos e a nova, onde o meu banco de praça favorito é, na verdade, a residência virtual (ou real?) de um pikachu?

    Comentários
    Compartilhe: