• 10 de setembro de 2021

    Porque as emoções nem sempre fazem sentido?

    – Mas Akim, não faz sentido nenhum eu ainda correr atrás dela.

    – Não?

    – Não.

    – Hum… bem, de qualquer forma, você está. Logo, faz sentido. talvez não o sentido que você queria. O que você esperava do seu comportamento?

    – Ah, eu queria ter esquecido já… partido para a próxima!

    – Pois é, talvez você tenha se esquecido de um detalhe importante.

    – Qual?

    – Você gostou dela. Não vai fazer o luto tão rápido assim.

     

    O mundo das emoções é rico. A maneira pela qual elas se mostram nem sempre nos soam lógica ou coerentes. Por outro lado, as emoções nunca prometeram ser lógicas ou coerentes. Então, como compreender melhor as mensagens que elas nos trazem?

    “O coração tem razões que a própria razão desconhece”, a frase de Blaise Pascal foi muito feliz. Talvez ela seja uma das mais adequadas sobre as emoções, pois mostra que há algo nela além da razão, que engloba a razão e a ultrapassa. Neurologicamente, as emoções surgem antes da razão. Muitos, no entanto, interpretam isso de maneira equivocada. O fato de ter surgido antes pode ser entendido por “mais primitiva” e isso ser significado como “pior”. Uma outra maneira é pensar que as emoções precedem a razão em termos de importância sendo seu substrato. Em outras palavras as emoções são mais fundamentais e delas nasce a razão.

    Portanto, não é como se as emoções não tivessem “lógica”, mas é que elas vieram antes da lógica. A linguagem das emoções é diferente da linguagem lógica. Logo quem busca compreender a emoção partindo da lógica sempre a perceberá como complicada e muito mutável. As emoções são o segundo importante movimento neurológico. O primeiro foram os instintos, o cérebro reptiliano. O cérebro emocional surge depois e consegue criar memória, aprendizagem e condicionamento. Sua área de atuação é o real, o movimento e as resoluções. Ele busca preservar o organismo de alguma maneira.

    Então, quando analisamos uma situação de um ponto de vista puramente lógico, encontramos várias cenas nas quais a emoção não parece lógica, mas ainda assim está presente. Um exemplo típico: alguém se relaciona com uma pessoa tóxica e se dá conta de sua toxidade. Melhor saída é deixar a relação. Simples e lógico. Porém, “as emoções não deixam ela ir” e sair da relação. Ao analisarmos mais profundamente, geralmente, vemos alguém que olha para a pessoa tóxica como alguém dotado de um poder maior, afinal vive esnobando-a. Logo a “pessoa tóxica” é percebida, na verdade, como uma “pessoa forte”. Aí, a lógica de sair de perto de uma pessoa forte já fraqueja.

    Então você poderá argumentar: as emoções são burras ou não nos servem direito. Não é precisamente isso. O fato é que elas reagem ao que apresentamos à elas. Existem elementos que são estimuladores universais de emoções e outros pessoais, aprendidos ao longo do tempo. As emoções reagem, num caso como esse, à um desejo profundo de ser cuidado por alguém, de preferência, alguém forte. Então a necessidade infantil encontra seu lugar e emoção surge. Não é a emoção quem avalia erroneamente, mas sim, nós.

    Afirmo isso, porque, em um caso como esse a pessoa sente outras emoções na mesma relação. Ela sente tristeza, raiva, mágoa. Porém essas emoções não são valorizadas por ela da mesma maneira. As emoções não seguem ideologias, elas seguem aquilo que lhes dizemos. Elas não operam ao nível do discurso, apenas das ações. É algo cruel, pois você pode entender a situação de uma forma, mas irá agir com base no que suas emoções conseguem. A auto imagem de pessoa fraca que precisa de uma pessoa forte se sobrepõe à muitos discursos e ela segue com a relação tóxica. Emoções são cruas e muito diretas: ou você sente ou não sente, não existe “meio sentir”.

    Portanto, as emoções “nem sempre fazem sentido”, pois olhamos com os olhos da lógica pura. Porém, nem sempre as emoções estão reagindo à isso. A pergunta que realmente nos lança no universo emocional é: ao que estou reagindo para sentir o que sinto? Uma relação contém milhões de estímulos, à quais a pessoa está reagindo? Esses são aqueles que maior valor para ela e consequentemente, aos quais suas emoções vão reagir. Podem ser estímulos interessantes, importantes ou não olhando de um ponto de vista lógico, porém, para as emoções, isso não importa. O que importa é que eles foram escolhidos. Melhorar nossa percepção emocional é compreender com mais precisão e abrangência os estímulos aos quais escolhemos reagir.

    Abraço

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