• 10 de abril de 2020

    Porque eu sinto duas emoções diferentes ao mesmo tempo?

    – Mas é algo bem estranho, eu não deveria me sentir assim.

    – Porque não?

    – Ah… é estranho. Porque eu fico me sentindo motivado e com medo ao mesmo tempo?

    – Porque não deveria?

    – É porque se está motivado, está motivado oras! E se está com medo, com medo.

    – E se estar motivado, lhe fizesse ter que fazer algo que você teme?

    – Como assim?

    – Ora, uma pessoa tímida, por exemplo, pode estar motivada para flertar com alguém e com medo disso, porque teme ser rejeitada não?

    – É… sim…

    – Então o mesmo estímulo pode ser visto sob vários olhares e cada um nos dar uma emoção diferente?

    – Sim…

     

    Queremos que as emoções funcionem de uma forma para nos facilitar a vida. Queremos que elas se adaptem à nossa maneira de compreender o mundo ao invés de entender como elas funcionam e buscarmos nos adaptar à elas.

    As emoções são relacionadas com estímulos. Assim que entramos em contato com algo que é capaz de gerar em nós uma determinada emoção, nós a sentimos. Alguns estímulos tem origem em nossa biologia e são universais. Outros são aprendidos através de nossa convivência com eles. Este aprendizado é o que nos permite ver o mesmo estímulo sob várias óticas diferentes. O primeiro emprego, por exemplo, de um lado a pessoa se sente feliz em começar a carreira e, de outro, pode se sentir sobrecarregada pela pergunta: será que vou conseguir manter o emprego?

    Assim como o primeiro emprego tudo na vida pode eliciar várias emoções ao mesmo tempo em nós. Estímulos que geram emoções solicitam respostas, ou seja, quando sentimos algo, nosso organismo quer fazer alguma coisa com o estímulo. No caso do emprego, por exemplo, nos sentimos orgulhosos pela conquista e ao pensar em ir trabalhar – a resposta – podemos nos sentir incompetentes e isso pode nos gerar ansiedade. Então, muitas vezes a resposta que vamos dar a algo pode se tornar um estímulo que elicia outra emoção em nós.

    Podemos, também, ter outras variáveis. No caso do emprego a pessoa pode ter se sentido orgulhosa em conseguir o emprego, mas quando pensa em trabalhar não se imagina como alguém capaz de ter sucesso ou não merecedora do mesmo (“Porque eu?”). Neste caso, temos uma auto imagem que entra em conflito com o sentimento de conquista e faz com que a pessoa tenha várias emoções em relação ao mesmo fato. Pode ser também o oposto, ela poderia achar que seu primeiro emprego seria muito melhor que este então sente-se frustrada ao conseguir, embora aliviada de ter conseguido “pelo menos isso”.

    O fato de sentirmos mais de uma emoção em relação à um determinado fato ou de a partir de um sentimento sentirmos outras emoções deve ser encarado como algo natural. O mundo das emoções funciona assim, não tem nada de errado. O que não temos, muitas vezes, é a percepção clara sobre aquilo a que estamos reagindo. Porém isso é algo que pode ser adquirido através de conscientização sobre a natureza das emoções e de nossos aprendizados.

    Quando você se perceber com sentimentos mistos não se desespere. Apenas busque ver sobre o que cada um deles se refere. Alegria e medo, motivação e impotência são emoções que podem ser, num primeiro olhar, antagônicas, mas elas aparecem juntas com grande frequência. É um processo de auto conhecimento perceber o que cada uma dessas emoções quer de você e em relação ao que elas surgem, mas quando nos damos este trabalho, aprendemos que emoções mistas são na verdade a expressão da complexidade de nossas vidas e não um sinal de distúrbio nela.

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