• 25 de maio de 2020

    Porque faço isso?

    – E foi isso da minha semana.

    – O que você percebeu sobre tudo o que me contou?

    – Como assim?

    – Ora, você me relatou tudo isso, querendo mostrar o que?

    – Não sei…

    – Então perceba para que você falou sobre isso tudo?

    – Tem a ver com algo que falamos semana passada né?

    – Exato, o que?

    – Hum… eu falo disso tudo para não falar do que importa.

    – Correto, e o que importa?

    – Tá certo… bem, pensando aqui agora na relação com a minha mãe…

     

    Muitas vezes as pessoas falam sobre problemas para não falar sobre seus “reais” problemas. É comum nos defendermos daquilo que realmente poderia nos ajudar, colocando nosso foco de atenção em cima de algo que é incômodo, mas que não é “realmente” um problema.

    Estes são os chamados comportamentos defensivos, que podem envolver mecanismos de projeção, transferência ou fugas e negações. É importante compreender que não fazemos isso por sermos “ruins”, como muitas vezes as pessoas se julgam ao perceberem que estão, de certa forma, se afastando de seus problemas. O mais comum é realizarmos isso por medo, carência, impotência ou sentimentos profundamente “reprimidos” como raiva. Para não entrarmos em contato com isso, usamos estas defesas.

    Um bom processo de terapia sempre nos ajuda a perceber quando estamos fazendo isso. Aprendemos a perceber nossos comportamentos típicos de defesa e fuga. Não se trata de não fugir mais, mas de perceber isso. Em alguns casos é importante saber fugir, mas quando fugimos de algo que não é possível fugir isso se torna problemático. É neste caso que precisamos dar um passo para trás, perceber a fuga e dar um passo para frente, afim de confrontar aquilo que é temido.

    Desta maneira, conseguimos criar uma nova relação com nós mesmos. Aprender que fugimos de algo não é ruim. Depois de um tempo, isso nos serve como um alerta. A fuga só é, de certa forma, problemática quando automática. Na medida em que tornamos isso consciente, conseguimos também ver do que estamos fugindo. E este é um dos momentos em que o ato terapêutico é mais profundo. É quando olhamos para o que tememos que percebemos nossa humanidade, pois é ali que todos os  discursos morrem e que vemos aquilo que somos.

    Neste momento é que percebemos, também, aquilo que precisamos afim de “curar” uma ferida em nossa psique. Nossos comportamentos de forma geral, servem para nos adaptar ao mundo. A questão é que nos adaptamos ao mundo que recebemos, do jeito que recebemos. Assim sendo, muitas vezes temos adaptações “pobres”, ou seja, funcionais apenas para uma situação no mundo e que não nos ajuda muito com as outras. Por isso, quando “vamos para o mundo” sofremos.

    Perceber que nossas atitudes visam esta proteção e adaptação é fundamental para entender os motivos que nos levam à elas. Com isso em mente é que conseguimos realizar novas adaptações e, por este meio, mudar comportamentos e atitudes. Não é nem necessário mudar o comportamento anterior, apenas encontrar para ele uma nova função. Muito menos mudar nossa história, mas aceitá-la. Com isso, conseguimos nos amar de maneira mais ampla e, também, ir além.

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