• 14 de setembro de 2020

    Porque nos deixamos de lado?

    – Mas e o que eu faço?

    – Não sei. O que lhe dá vontade de fazer?

    – Eu não sei ao certo…

    – Sabe sim… diga lá. O que já te veio à mente?

    – Pensei em fazer algo novo.

    – Perfeito. O que você ainda não sabe né?

    – Não.

    – Ótimo, então vamos ficar em contato com isso e ver o que surge.

     

    A pergunta desse post também pode receber uma contra pergunta: porque não nos deixar de lado? Afinal de contas, nos colocar em primeiro plano nem sempre é prazeroso, não nos oferece nenhuma garantia de sucesso e muito menos trata-se de algo “fácil” de se fazer.

    Estes são, inclusive, alguns do principais motivos que acabam por fazer com que nós deixemos nossa própria essência de lado. O fato fundamental é esse: não é fácil se manter em primeiro plano. Estar em contato com nossa essência é uma atividade exigente e muitas vezes desgastante. Não é o mar de rosas vendido pela cultura da auto ajuda, mas sim um processo e exercício que exigem muito e nem sempre oferecem exatamente aquilo que você estava procurando em primeiro lugar.

    Um ponto interessante sobre isso é que, muitas vezes, ao entrarmos em contato com a nossa essência, deixamos de fazer coisas que queremos. Parece confuso não é? O fato é que em geral as pessoas acreditam que a versão do “eu” que elas são hoje, será a versão para sempre de quem são, ou seja, cremos na imutabilidade do “eu”. Esta experiência que chamamos de “eu”, porém, não é imutável. O eu muda e se desenvolve e o eu que seremos no futuro é quem escolhe aquilo que vai permanecer de quem somos hoje e o que vai “morrer”.

    Então é que a dificuldade se cria. Muitas vezes tememos deixar partes nossas pelo caminho. Gostamos tanto da pessoa festeira que somos e não queremos acreditar, por exemplo, que agora não nos sentimos mais ajustados à vida de balada. Tentamos, então, permanecer lá, no forçando a ser algo que já está com os dias contados. Isso é (também) se deixar de lado. Esta noção de que você não será sempre quem é hoje, que seus pensamentos e emoções vão mudar é um fator muito importante e doloroso para boa parte de nós.

    Geralmente, nos deixamos de lado por não querer, conseguir  ou permitir que as mudanças que nossa essência nos “exige” ocorram. Nos deixamos de lado ao querer permanecer sempre o mesmo. Nos deixamos de lado ao negar novas experiências que são sentidas como um desejo. Aquilo que chamamos “eu” é apenas uma parte de nós, assim sendo, nos deixar de lado é algo comum porque não estamos atentos àquilo que está além do eu.

    Assim sendo, é possível retomar contato, porém ele exige o desprendimento. O cuidado com aquilo que queremos e com o que chamamos de eu é importante. Também o é o contato com aquilo que não sabemos sobre quem somos. Perceber e cuidar de tudo aquilo que nos é indigesto, desconhecido, repugnante e estranho é fundamental para cuidar de quem somos. Estar com os olhos abertos para enxergar a vida de forma mais ampla envolve poder agir sem compreender inteiramente para onde estamos indo e isso pode ser importante para nos colocar no nosso eixo.

    Abraço

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