• 28 de abril de 2021

    Portas fechadas

    – Eu não quero causar problemas sabe?

    – Sim, uma pena.

    – Porque?

    – Você está fechando as portas para isso. Muita coisa bonita nasce quando alguém mostra seus problemas.

    – Pois é, mas são os meus problemas e não os deles.

    – Sim, por isso você tem a opção de abrir ou não. Ao abrir, você amplia e as relações podem ocorrer, ao fechar, as relações se limitam.

    – Isso me deixa confuso. Eu não gosto de dar trabalho.

    – E nem de se abrir.

    – Pois é…

    – Neste sentido, quem não dá, não recebe.

    – Mas dar o que? Problemas? O que eu posso receber em troca disso?

    – Boa pergunta. O que, de fato?

     

    As pessoas “não querem causar problemas”. De um lado isso pode parecer nobre, de outro revela as dificuldades de relacionamento. Quem não causa problemas também não vive a ajuda.

    Sempre escuto de vários pais, mães e filhos super zelosos e responsáveis que eles se sentem sobrecarregados ou que ninguém percebe o seu esforço. É verdade. Ninguém reconhece porque não é exposto. Os outros não tem como conhecer. Geralmente estas pessoas ouvem, surpresas, de seus familiares: “nunca pensei que você precisava de ajuda, sempre fez tudo sozinho e bem feito”. Quem não dá problema, não recebe ajuda.

    Quando as portas se fecham não há como passar por elas. As pessoas respeitam isso, de certa forma. Quando alguém “não quer causar problemas”, ela fecha a porta. Os outros passam pela pessoa e veem a porta fechada com uma placa que diz “não preciso de ajuda”. Assim sendo elas passam adiante e vivem suas vidas.

    Aqueles que compartilham seus problemas, de outro lado, abrem as portas. Eles mostram o problema, a situação e aceitam ajuda. Estes podem receber ajuda e solidariedade porque mostram o problema, suas fraquezas e limites. Algumas pessoas mostram aquilo que querem, seus desejos. Nossas fraquezas e limites também podem ser expostas desta forma. Ao exporem suas fraquezas e limites como um desejo de ir além também recebem ajuda, dicas, tutores e pessoas que desejam ver elas crescendo.

    O que realmente impede as pessoas em expôr seus limites e necessidades é o medo. Em geral, tem como um dito pessoal a máxima: “melhor dar que receber”. São pessoas controladoras e conquistadoras que vivem muito bem enquanto estão, como elas mesmas colocam, “por cima”, mas que não sabem estar “por baixo”. A confusão é em termos de valores. Creem que estar por cima é “bom” e por baixo “ruim”. Assim se afastam daquilo que consideram que pode colocá-las “para baixo”.

    “Não quero dar trabalho porque este problema é meu”. Esta é a frase mais comum. Porém, não se recusam a ajudar alguém. É contraditório. Eu aceito ajudar você com um problema, mas não ser ajudado. Ajudar alguém é uma felicidade, ser ajudado uma desgraça. Há algo errado neste raciocínio. Ele só se torna adequado quando coloca-se a noção de “ser mais que o outro” ao ajudá-lo. Aí faz sentido desejar ajudar, mas não querer ser ajudado. Isso se torna uma luta entre ser mais capaz e ser menos capaz.

    Nesta luta a pessoa se fecha. Não posso me relacionar com alguém que considero, de certa forma, um inimigo. Há uma disputa implícita pelo poder. Quando há este tipo de luta, as pessoas não querem perder. Elas não se abrem, as portas se fecham. Não há relação, há disputa. A disputa se confunde com relação. Creem estar se relacionando, mas, na verdade, estão disputando. Enquanto seu lugar não for atacado, tudo estará bem. Porém… quem não dá, não recebe. Loja fechada não recebe cliente. Pessoa fechada, não recebe afeto, mesmo que haja afeto disponível.

    Abraço

     

     

     

     

     

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