• 19 de junho de 2020

    Qual é o meu problema mesmo?

    – Eu entendi isso Akim, mas eu quero resolver o meu problema entende?

    – Claro, por isso estou falando nisso.

    – Mas eu não entendo… o que isso tem a ver com eu ficar ansioso?

    – A ansiedade é o problema…

    – Claro!

    – ou ela é apenas o sintoma do problema?

     

    – Como assim?

     

    Tendemos a perceber – e sofrer – com aquilo que se chama de sintoma de um determinado problema. Embora o sofrimento seja verdadeiro, o ponto é que “tratar o sintoma” não ajuda a pessoa de fato. Quando percebemos que aquilo que chamamos de problema é, na verdade, o efeito do problema de fato é que conseguimos fazer mudanças efetivas.

    Bohoslavki em seus estudos sobre orientação profissional pergunta-se sobre o que é difícil para a pessoa em fazer uma escolha. A primeira vez que li isso, achei muito interessante e essa pergunta me abriu para uma série de outras. Tendemos a focar no efeito do problema: não definir uma profissão, mas não naquilo que causa isso: a forma da pessoa pensar as profissões, questões afetivas sobre independência e mercado de trabalho e até mesmo se a pessoa sente-se confiante de que é capaz de cuidar de si.

    Desta maneira, muitas pessoas quando chegam à terapia começam relatando seus sintomas, aquilo que as faz sofrer. Porém, nem todos conseguem perceber que esse sofrimento não é o problema, mas apenas sua consequência. Um exemplo comum é que a pessoa sente-se triste e deprimida quando, por exemplo, é rejeitada afetivamente. Ela ira relatar que o problema é a tristeza que está sentindo, porém não ira focar em outro ponto importante que ocorre dentro de sua mente.

    Este ponto pode ser, por exemplo, um “pensamento automático” que lhe diz: “viu, sabia que isso ia acontecer, você não deveria ter falado que gostava dele”. Este pensamento é uma raiz mais profunda do problema e não a rejeição em si. Porque? Se a pessoa tem este pensamento em mente e é rejeitada, ela “confirma” para si uma “hipótese” que ela já tinha criado. Isso muda a maneira pela qual a pessoa viveu aquilo que lhe aconteceu: ao invés de ter levado apenas um fora, ela “fez algo que sabia que nunca deveria ter feito e ainda se machucou por causa disso”.

    Não é o fato por si só que causa a tristeza, mas a interpretação que a pessoa faz. Daí vem a pergunta: então posso interpretar de outra forma? Sim. Este é o caminho para realmente lidar “com o problema”. O ponto é: de onde vem este pensamento? Em geral, eles surgem de “pensamentos mais profundos” que chamamos de crenças. Ou seja, é muito provável que esta pessoa tenha uma crença negativa sobre ela, como por exemplo: “sou feia”, “sou “burro”, “ninguém gosta de mim”. Estas crenças não ficam o tempo todo em nossa mente, porque “aprendemos que somos assim” e seguimos com isso como se fosse uma verdade.

    Esta verdade, cria outras “verdades”, tal como a frase acima ( “Viu? Sabia que isso ia acontecer, você não deveria ter falado que gostava dele!”) Quando acreditamos nisso, passamos a agir como se essas frases em nossa mente fossem a verdade. Tentamos fugir delas, mostrar que não é assim, ou nos esquivamos do mundo com medo de torná-las verdades de fato, o ponto é que elas regem nossos comportamentos e sentimentos. E quando olhamos para esses pensamentos e crenças é que podemos realmente lidar com os nosso problemas.

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