• 30 de novembro de 2020

    Qual é o seu valor?

    – Mas e como eu vou saber disso? Como eu vou dizer o quanto eu valho?

    – É uma boa pergunta e digo mais: será que é uma questão de quantidade?

    – Como assim?

    – Quando você diz: “quanto” é uma referência à quantidade não?

    – Sim.

    – E se o seu valor for algo mais qualitativo ao invés de quantitativo?

    – Nossa, nem sei se entendi isso.

    – Talvez não. Vamos pensar um pouco sobre o tema.

     

    Na sociedade de consumo as pessoas se posicionam e identificam como produtos. Precisamos ser belos, inteligentes e em “constante aprimoramento”, para sermos apreciados (comprados) pelos outros. Assim a noção de “valor pessoal” se confunde com esta perspectiva de “ser para o outro”. Porém, existe a percepção pessoal de importância que é fundamental para o desenvolvimento de saúde mental.

    A questão do valor pessoal é algo sempre muito difícil para pensar. Isso porque a ideia de “valor” tem como significado uma qualidade pessoal ou uma medida usada para comprar ou vender algo. Assim sendo, é muito difícil sair de uma percepção social da noção de valor, ou seja, não relacioná-lo com algo “concreto” no mundo. Em geral, quando as pessoas falam sobre o seu “valor”, elas falam sobre qualidades positivas, características com as quais os outros podem vê-la e avaliá-la de forma positiva. Isso aumenta a sensação de merecer pertencer ao grupo.

    É óbvio que ter esta percepção é algo importante. Se a pessoa desempenha bem uma profissão, por exemplo, é importante que ela entenda o valor que isso tem diante do social. Isso também faz parte de percebermos nosso valor. Porém isso não basta. Pois existem coisas que desejamos, que nos são importantes e que não possuem relação nenhuma com esta valorização social, ou até entram em conflito com ela. Muitas pessoas, por exemplo, tem um valor de “cuidadosas” e sentem muita dificuldade em dizer aquilo que precisam ou dar limites em relações. A falta de reconhecer um valor pessoal aumenta o problema.

    É interessante pensar que nosso corpo tem uma percepção muito clara de “valor pessoal”. Nosso organismo reage imediatamente àquilo que não faz bem à ele. Somos nós quem freamos este processo na maior parte das vezes. Nossas células possuem uma sensação nítida de valor de sobrevivência. Quando isto é ameaçado de alguma forma, elas reagem prontamente. Quando falamos em valor pessoal, nos aproximamos desta faceta do biológico. Porém isso não é diminuir a pessoa, pelo contrário, é dar-lhe a complexidade que possui.

    Isso porque aquilo que me faz sentir-me bem é diferente daquilo que faz outra pessoa sentir-se bem. A permissão que nos damos para olhar para isso trata do “valor pessoal”. Em outras palavras: qual é o valor que você dá para aquilo que faz você crescer, sentir-se bem e respeitado? Aqui não tratamos de ideais, mas sim de uma percepção crua sobre cada um do jeito que é. Não existe a criação de “como deve ser”, mas sim a percepção daquilo que já é, que já nos faz bem ou mal. Apenas perceba essas informações já existem em você, talvez você não goste delas, ache que isso é fraqueza sua ou tenha medo, mas está aí.

    O valor disso está ligado com a maneira pela qual avaliamos isso. Minhas necessidades são minhas “fraquezas”? Se sim, você vai buscar se fechar a elas, suplantá-las de alguma maneira, negá-las. Minhas necessidades são o que preciso para ser feliz? Se sim, você vai, ativamente, buscar saná-las e protegê-las. A avaliação que faz de sua vida está baseada nisso também. Aquilo que melhor nossa existência é algo que está ligado ao valor pessoal, mesmo que ninguém goste ou que isso não aumente o seu “valor de mercado”. Tomar isso nas mãos e fazer algo com isso é um grande ato de coragem.

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