• 8 de maio de 2020

    Quando “saber como” não basta

    – Mas é que eu não entendo como fazer isso!

    – Eu sei.

    – Então, como você quer que eu faça alguma coisa?

    – Eu não quero. Mas o fato é que você não vai achar como fazer isso.

    – Porque não? O que eu faço então?

    – A pergunta é: o que você faria se encontrasse?

    – Mudaria!

    – Então imagine que aqui, na minha mão está a chave como mudar. Você abre a minha mão para pegar isso?

    – Não sei…

    – Exato, “não sei”.

     

    Muitas vezes as pessoas acreditam que não fazem uma mudança porque não sabem como fazer isso. Embora a falta de recursos possa ser um fator contribuinte, muitas vezes a pessoa simplesmente não está comprometida com a mudança e esse fator é fundamental.

    A falta de compromisso não é apenas uma questão de dizer “eu quero” e ficar repetindo essa frase no espelho. É o reconhecimento de uma necessidade diante da qual a pessoa se coloca “de corpo e alma”. Este é ponto em que o herói ou heroína “aceita a aventura”, independente do que ela vá lhe causar. Muitas pessoas diante das mudanças buscam histórias de sucesso para se inspirar. Pessoas que diante buscaram com todas as suas forças uma mudança e conseguiram atingi-la.

    Acredito que isso seja um tanto perigoso no sentido que nos condiciona a pensar que se você vai fazer uma mudança ela tem que dar certo, ou não terá valor. Isso é um erro. A maior parte das pessoas em pesquisas diz que se arrepende daquilo que não fez em vida. Quando se entrevistam pessoas que tentaram e não conseguiram elas relatam sentir-se bem em relação ao que ocorreu: “pelo menos eu tentei”, é o que dizem. E porque devemos levar isso em consideração?

    Pelo fato de que a vida não é certa, a pessoa pode decidir buscar seu primeiro milhão e morrer um dia depois. Porém o fato é que entrar na busca é o que realmente conta para nós enquanto seres que buscam um sentido para sua vida. Mesmo se você encarar de um ponto de vista “tudo ou nada”, pode-se fazer a mesma reflexão: ou você entra na aventura ou não. Caso entre poderá perder, mas caso não entre é certo que nunca vencerá.

    É, de fato, um “ato de fé”, mas esta está localizada não no resultado final, mas sim no desejo da busca. Em neurologia aprendemos que o sistema de prazer inicia quando a busca começa e não quando atingimos o alvo final. Até mesmo deste ponto de vista podemos compreender que buscar é mais importante, em termos de vida, do que chegar no ponto final. É óbvio que dependendo do seu objetivo, o “ponto final” se faz necessário, porém, isso apenas aciona ainda mais fortemente o sistema de prazer quando começamos a buscar.

    Neste mundo que deseja tanto o controle e garantias, cada vez as pessoas se afastam do risco e buscam a segurança. É triste ver este movimento, pois é na insegurança, no descontrole e no incerto que o ser humano se descobre. E isso não é apenas algo “bonito de dizer”, é algo concreto em nossos cérebros, pois eles não se desenvolveram em ambiente seguro, eles foram moldados para viver com o perigo e insegurança. Quanto mais dizemos “não” ao que queremos sem nos comprometer com medo de algo que poderá dar errado é certo que também dizemos não à nossa essência.

     

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