• 17 de julho de 2020

    Quem não pode errar, erra

    – Eu preciso melhorar nisso!

    – Nisso o que?

    – Eu não posso continuar sendo assim, explodindo!

    – Melhorar, no que?

    – Isso de ficar explodindo toda hora.

    – Entendi que você não quer isso, mas o que você quer?

    – Hum… não sei direito… ser mais calmo talvez?

    – “Talvez”? É também não sei o que você quer. Vamos tentar deixar isso mais claro?

     

    Um dos motes que sempre combato é: “seja sempre melhor”. Porque? Porque vejo, em muitos clientes o quanto isso acaba com a sua capacidade de melhorar. Achou estranho? Pois é, o fato é que a cobrança excessiva gerada por esta ideia acaba por gerar o seu oposto. Mesmo em quem tem boas intenções.

    Quando alguém foge do erro, não foca no acerto. Isso não é apenas uma troca de palavras o efeito disso no comportamento da pessoa é muito envolvente. Ocorre que para cada tarefa feita, a pessoa se pergunta: “será que fiz certo? Será que vai dar certo?” Isso a faz imaginar vários cenários futuros nos quais aquilo pode dar errado. Porém, se ela “não pode errar”, vai, rapidamente, correr atrás de uma forma de “evitar” isso. A cada obstáculo vencido, apenas se acrescentam novo e, assim, ela segue tentando evitar o inevitável.

    “Ser sempre melhor” é um tipo de frase que faz com que a pessoa tenha o mesmo tipo de comportamento descrito acima. “Será que estou sendo melhor?”, “será que vou conseguir melhorar isso?”, estas perguntas levam à pessoa para respostas que apenas criam ansiedade. Além disso, nunca questionam a noção de o que é melhor? Quanto “melhor” tenho que ser e para que? Ou seja, ser melhor é algo que serve à uma função. Ser melhor apenas por ser melhor é algo insólito, a busca de melhorar algo afim de atingir um objetivo é o que é realmente interessante.

    Então a pessoa convive com a obrigação de se tornar sempre melhor e começa a criar metas irrealistas. Essas pessoas tem boas intenções, por assim dizer, mas quando criam uma meta inalcançável e se cobram por isso, dão um tiro no pé. O mesmo vale quando a pessoa toma por “ser melhor” aquilo que lhe dizem ser o melhor. Isso aumenta a ansiedade porque a pessoa passa a ficar sempre na dúvida sobre estar ou não satisfazendo o outro.

    Quando a meta se torna clara, de outro lado, é mais simples. É diferente dizer: “preciso ganhar mais”; e dizer: “preciso ganhar R$ 1500”. A segunda forma dá um fim, uma meta clara, a primeira deixa isso em aberto, ou seja: quanto mais e para que? Outro exemplo: “preciso ser mais calmo”. Com o que, especificamente? Em que situação e para que você deseja calma? Dizer, por exemplo: “meu filho demora para entender matemática, tenho que baixar a minha pressa e expectativa para ajudá-lo em relação à isso”; é muito mais funcional do que se dizer: preciso ser mais calmo.

    Então, ocorre que quanto mais a pessoa foca no erro e se dá metas muito abrangentes, mais ela cai em ansiedade e frustração. O problema não é sua intenção em “melhorar”, mas sim a falta de clareza e objetividade em relação à isso. Ao buscar focar naquilo que realmente precisa e em aproximar-se disso, cria-se uma nova relação com o que nos falta. A busca contra o erro é infrutífera, porque errar é algo que faz parte do aprendizado e quem não se permite errar, não aprende.

    Abraço

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