• 16 de novembro de 2020

    Quero reconhecimento

    – Mas ninguém me dá valor lá.

    – Sim, é verdade.

    – Então como você me diz: “fique lá”.

    – Pense. O que me faria dizer este absurdo?

    – Não sei… não entendo mesmo!

    – Quando você entrou?

    – Três meses.

    – Deseja reconhecimento ou valor pelo que?

    – Pelo meu trabalho!

    – O que você fez que é digno de destaque?

    – Ah, sei lá… fiz tudo certinho até agora.

    – Fez o seu trabalho?

    – Sim.

    – E quer o que além do salário, conforme combinado, de reconhecimento e valorização?

    – Hum… não sei…

     

    Muitas pessoas querem ser reconhecidas. Desejam que seu trabalho ganhe valor na sociedade e que esta o coloque num lugar especial. Porém, esperam que isso aconteça antes de se lançarem no mundo, antes de realizarem, de fato alguma coisa. O medo e a arrogância se escondem por detrás desse comportamento cada vez mais comum.

    As pessoas aprenderam que elas são maravilhosas, que elas tem um potencial infinito e que tudo o que elas precisam é de pessoas que as reconheçam e façam este potencial brilhar. A solução da vida cada vez mais é colocada nas mãos de terceiros. Não que incentivar não tenha um poder positivo, é claro que tem, porém, a sociedade que exige reconhecimento entendeu tudo errado. Reconhecimento não se exige, se recebe com humildade e, geralmente, depois de muito trabalho e de uma contribuição significativa.

    Reconhecimento não é pressuposto para a ação, pelo contrário. Porém quando se exige o reconhecimento entende-se, a verdade, que o outro precisa lhe dar algo para que se possa continuar. Para que se “deva” continuar. Esta atitude mimada mostra uma geração que foi super protegida pelos pais. Esta superproteção como já disse em outros posts, não ajuda, atrapalha. Faz a pessoa entender o mundo de uma perspectiva que não se realiza, pior: faz com que a pessoa compreenda que está fazendo algo de errado ou que o mundo está errado caso ela não receba aquilo que nunca lhe foi prometido pela realidade (apenas pelos pais).

    Então temos uma arrogância que compreende-se maior que o mundo. Ao mesmo tempo, existe o medo, visto que a visão arrogante não se concretiza. “Algo está errado”, é o sentimento oculto no coração de milhões de jovens no mundo todo. Se a pessoa ainda não recebeu o que lhe “era de direito”, algo está errado. O que poderia ser? Os que se defendem, levantam bandeiras contra o mundo, aqueles que não ofazem colocam a culpa sobre seus ombros.

    Nem um ou outro encontrarão a solução, pois o verdadeiro fato reside em aceitar a realidade. Ser reconhecido e valorizado pela sociedade como um todo é algo que poucos alcançam. Quase ninguém o fez sem muito trabalho e muitos foram reconhecidos apenas anos após suas mortes. Apostar sua vida na necessidade do reconhecimento é fazer a aposta mais perigosa e errada que se pode fazer: pois é o mesmo que colocar sua vida na mão dos outros.

    Porém, algo pior pode ocorrer: você pode conseguir o reconhecimento fácil. Neste caso, estará fadado à um tipo diferente de medo. A percepção de que você, de fato, não é “tão bom assim” e a nítida compreensão de que os elogios são apenas bajulação. Pois então o “reconhecimento” veio e você não vai desejar se afastar dele, ao mesmo tempo entenderá que ele não vale nada. Isto é pior do que não receber reconhecimento, um vazio fingido de preenchimento. A saída? Buscar viver sua própria vida, reconhecendo aquilo que te faz se preencher.

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