– Mas o que eu faço Akim?
– Aceite que não vai conseguir fazer nada.
– Como?
– Você pode fazer algo?
– Não!
– Então.
– Mas eu queria.
– O que há de melhor que você pode fazer?
– Posso dizer para ela que amo ela.
– Perfeito, isso você pode fazer, mas além disso, não é seu, é dela. Deixe ela com os problemas dela.
– Entendo… é difícil para mim… sempre quero fazer algo a mais.
“Dar o seu melhor”. Essa é uma frase que pode ser utilizada para que as pessoas alcancem voos cada vez mais altos ou para aprisioná-las em uma cobrança eterna. É uma linha tênue que separa os dois destinos, a frase, porém, mantém o seu poder curativo mesmo assim.
O problema é que quando se fala no Ocidente em “dar o seu melhor”, logo se estipula uma ideia de competição. O mesmo vale para a palavra produção que, embora tenha vários outros sentidos, é sempre confundida como sinônimo exclusivo de produção material e/ou industrial. A competição em “dê o seu melhor” é desumana, visto que, seguida à risca dentro desta lógica, faz com que a pessoa tenha que “ser melhor” do que foi no dia anterior sempre. Isso cansa muito.
Então, o que seria dar o seu melhor? Não teria nada a ver com competição? Não. Dar o melhor é um compromisso que a pessoa firma. É uma atitude frente à maneira pela qual ela busca viver a vida e honrar aquilo que se propõe. Dar o melhor é sempre dar o melhor que se tem. Ninguém dá aquilo que não possui. Então, dar o seu melhor não trata em fazer o impossível, mas, sim, em dar, dentro do que é possível o melhor que temos. Em outras palavras a expressão é “contextualizada”.
É infantil pensar, por exemplo, que o “melhor” que alguém tem para dar com seu estado pleno de saúde tenha que ser igual ao que ela tem para oferecer doente. Não funcionamos assim. Porém, é possível pensar: bem, hoje estou doente, qual é o melhor que tenho para oferecer aquilo que quero fazer? Isso também não implica em sacrifícios loucos. Por vezes o “melhor” significa não fazer nada. Algumas vezes, por exemplo, estou precisando escrever e com sono. Sono é algo que me atrapalha muito. O “melhor” que posso dar nessas situações é dormir.
Parece estranho? Acompanhe: se eu não dormir e me forçar a escrever, provavelmente duas coisas vão acontecer: não vou ter boas ideias, vou me irritar em não conseguir escrever e em estar com sono e vou deixar isso de lado. Assim sendo, se vou dormir, presto um serviço aquilo que quero, porque ao acordar estarei com a mente mais limpa para fazer o que preciso fazer. Logo “dar o melhor” também não é uma questão de fazer, fazer, fazer, sem refletir. É importante saber o que é o melhor que temos para dar dependendo de cada situação e contexto.
Por fim, quando a pessoa realmente compreende qual é o melhor que tem para dar em cada dia, consegue organizar a sua rotina e vida em torno disso. Percebe quais são as tarefas mais importantes que tem para fazer e aprende a priorizar. Aprender a dar o seu melhor tem a ver, também, em saber o que é melhor para você. Desta maneira, esta frase pode se tornar um grande alívio ao invés de um peso em nossas vidas e, ainda por cima, nos ajuda a criar ainda mais força perante aquilo que queremos.
Abraço