• 2 de agosto de 2021

    Sobre a morte

    – Eu não quero nem pensar nisso.

    – Você teme pensar nisso, mas porque teme?

    – Não sei dizer.

    – Sabe sim. Este é o motivo de temer.

    – O que você acha?

    – Não se trata do que eu acho, mas do que existe aí.

    – O que você acha que existe aqui.

    – Me diga você o que há.

    – Não sei… tenho medo.

    – Se você teme, é porque sabe o que há aí.

     

    Toda busca de uma forma de viver, é uma busca em preparar-se para morrer. Deixamos a morte de lado, porque não acreditamos nela. Acreditamos que vamos ficar aqui para sempre. Porém, negamos a vida quando fazemos isso e ao contrário do que parece, nos tornamos prisioneiros de nosso estilo de vida.

    Não importa qual o futuro você quer para você, no fim existirá, sempre a morte. Ela é ultimo futuro com o qual vamos nos deparar. Morrer, ironicamente, é o último ato de todos os seres vivos. Rico ou pobre, doente ou saudável, todos os caminhos levam ao mesmo final. Porém na época em que vivemos, temos uma necessidade em fugir da morte. A negação da morte é diferente do temor da mesma. Para que algo seja temido é necessário ser aceito. O que fazemos atualmente, é negar a morte, ao negá-la, porém, negamos também, a vida. Porém, como isso aparece em nosso estilo de vida?

    Em primeiro lugar aparece pela importância dada ao estilo de vida. Hoje em dia é visto como um fracasso pessoal não conseguir manter seu estilo de vida. Mais que um fracasso é uma vergonha. em segundo lugar, colocamos o estilo como algo fundamental, enquanto o fundamental é, na verdade, estar vivo. Confunde-se a vida com o estilo de vida e cria-se a noção de que sem um estilo, uma pessoa não é ninguém. A partir disso o estilo torna-se uma necessidade em si e não uma necessidade para algo.

    Neste momento o poder do estilo cresce e se tornar necessário preservá-lo à qualquer custo. O estilo se torna mais importante do que a pessoa. Atendo muitas pessoas que se prendem à estilos de vida que não lhe servem mais apenas pelo fato de não conseguirem sair dele. Dizem “eu sou assim”, como se ao mudar o estilo a personalidade morresse. Não aceita-se que a pessoa é mais importante que o estilo e, assim sendo, tornam-se prisioneiras de uma forma de viver ao invés de donas de sua liberdade criativa para crescer e mudar conforme suas necessidades e desejos.

    Então é que se nega a vida. O ato criativo da vida em ser de múltiplas formas é negado quando o estilo de vida se torna mais importante do que o eu. Este, é quem cria o estilo a partir das necessidades que a vida traz. Aquele que consegue ouvir ou sentir as necessidades da vida e tem a coragem de tomar para se estas demandas pode abandonar estilos de vida por saber que eles são apenas um estilo e não “o” estilo. Porém ao fazer isso, assume-se que a vida acaba, pois é justamente esse caminhar para a morte que faz com que as fases da vida passem e, com isso, nossos desejos mudem.

    Ao negar a morte, negamos a vida. Aceitar a morte nos traz liberdade, pois aprendemos que tudo tem um fim e aprendemos a reconhecer este fim. Enquanto é necessário manter a vida em uma forma fixa, a morte é negada, porém o crescimento também se torna impossível. A criatividade se perde e ganha-se uma amarga ilusão de que a vida dura para sempre. Quando, porém as várias forças do mundo nos mostram o contrário a frustração é muito forte e tende-se a negá-la também. Negando a vida, criamos a morte em vida.

    Abraço

     

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