• 8 de maio de 2019

    Sobre sucesso profissional e relação com os pais

    – Eu tenho muito medo de não dar certo.

    – Quem vem à mente quando pensa nisso?

    – Meu pai.

    – Porque?

    – Ele se esforçou tanto para me dar todo meu estudo… tenho medo de decepcionar ele.

    – Entendo. Deve ser difícil para você tentar buscar a carreira e ainda carregar este fardo.

    – Pois é…

    – Somente a busca pelo sucesso profissional já é difícil, ter, ainda como consequência a decepção do pai se não conseguir…

    – É pior ainda… me sinto muito mal mesmo…

    – E como seria deixar isso de lado, focar apenas na profissão.

    – Nunca pensei sobre isso.

     

    O sucesso profissional é um tema que relaciona muitos elementos. Entre eles, existe um aspecto muito interessante que é a relação com os pais. É muito interessante notar que muitas motivações acerca do sucesso profissional estão vinculadas às relações que temos com nossos pais, tentando nos aproximar ou afastar deles.

    Em outro post recente, falei sobre a noção de que nossa carreira, muitas vezes, está tentando tapar buracos afetivos. A relação com a família de origem pode ser um desses buracos. Muitas pessoas possuem medo de não dar certo na profissão. Sentem este medo como uma ameaça muito maior do que ela de fato é. Quando pergunto para muitas pessoas o que se passa em suas mentes quando pensam no fracasso, logo as vozes de pai e mãe surgem na memória de forma direta ou indireta.

    “Não posso desapontar meus pais”. Esta é uma das frases que nos prejudicam. Entender que o sucesso na profissão estabelece uma relação com os pais, ou afasta a possibilidade dos mesmos se afastarem da pessoa. Quando acreditamos que o sucesso “não irá decepcionar os pais”, colocamos carga tanto na relação profissional quanto na afetiva. É  óbvio que os pais desejam ver os filhos crescerem, mas isso é diferente de eles deverem fazer isso afim de não decepcionarem os pais.

    “Meu pai/ minha mãe me cobram para dar certo”. Aqui temos outra frase difícil. Se a pessoa sente-se cobrada, então a relação está por um fio. Cria-se um limite tênue entre estar na família e estar fora dela por causa do sucesso na profissão. Tanto esta quanto a frase acima podem provocar na pessoa o desejo de não fazer nada ou de obter sucesso a todo custo. O problema de ambas as situações é que tendo ou não sucesso, o medo continua ativo.

    Se a pessoa tem sucesso, ela sente-se bem. Porém isso afasta ela das relações, visto que sabe, no fundo, que só tem o amor enquanto mantiver-se dando certo. Se ela “falha”, sente-se em dívida eterna com os pais e se percebe pequena demais para continuar. Neste último caso, por exemplo, a pessoa pode ter comportamentos de evitação, ou seja, ela evita conseguir sucesso porque teme perdê-lo caso consiga, e/ou teme não conseguir, e ao evitar se diz: “não consegui porque não tentei”.

    Em todas as situações, o problema é o mesmo: a relação com os familiares torna a vida profissional e as avaliações que a pessoa faz de de profissionalmente pesadas demais. Ela acaba acreditando que precisa do sucesso, sem questionar o mais importante: a premissa de que o sucesso irá garantir algo para ela na vida afetiva com os pais. Esta premissa é perniciosa e falsa. Aquilo que se cria enquanto afeto está além do sucesso profissional da pessoa com seus pais. Se apenas o sucesso define algo dessa relação, então ela já tem problemas de partida e não somente com um possível fracasso futuro.

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