• 10 de novembro de 2017

    Sou o que você não é

    – Mas Akim, ele não pensa como eu.

    – Sim, eu sei.

    – Então!

    – Então?

    – Então como que eu vou fazer para ele fazer isso que eu quero?

    – Ele não vai. Esse é o problema.

    – Ã?

    – Ele não vai, ele pensa tal como ele pensa. A questão é: você vai fazer o que você quer ou ainda vai ficar esperando ele pensar como você, para então agir?

     

    Quem é você? Responder essa pergunta pode ser algo perturbador para muitas pessoas. Muitas vezes buscamos a resposta exclusivamente nos outros. Embora aqueles que estão ao nosso redor nos influenciem, existe uma diferença entre saber o que eu não sou e quem eu sou.

    Muitas pessoas quando iniciam o processo de auto afirmação começam olhando para os lados e percebendo-se diferentes das pessoas. Isso é bom e importante. Porém, quando o processo para nessa fase o que acontece? Quando nos percebemos como diferentes e apenas como diferentes, nossa tendência é buscar afastamento. A diferença foca naquilo que não é igual, naquilo que separa. Não há nada nocivo nisso, o problema, como já coloquei é a ênfase exclusiva nisso. É o caso dos filhos que só veem as diferença entre eles e os pais na adolescência, sem perceber as várias semelhanças.

    Com base nessa percepção de sermos diferentes dos outros, podemos criar distância onde a mesma não se faz necessária. O foco na diferença também traz problemas para a pessoa. Ao dizer “sou diferente”, nem sempre ela encontra a força necessária para sustentar a diferença. Perceber-se diferente, pode trazer sentimentos de não pertencimento, de culpa ou medo. Em casos mais extremos as pessoas dizem “não pertenço à esta família”. Embora essa seja uma frase comum para quase todos, também é comum o momento no qual a pessoa se identifica com a família, mesmo com as diferenças.

    Esse processo envolve olhar menos para o lado e mais para o espelho. É diferente dizer “sou diferente” e afirmar: “sou assim”. Na série “Game of Thrones”, há um diálogo entre a personagem Arya e seu pai Ned Stark, no qual Ned falava sobre o futuro planejado para Arya com casamento com um nobre e filhos. Arya responde: “isto não sou eu”. A resposta é interessante, pois ela fala de uma percepção pessoal sobre si. Ela não se identifica com aquilo. Seria diferente dizer “eu não quero isso”, ela faz uma afirmação sobre sua identidade e personalidade.

    Neste momento, as diferenças deixam de ser o foco. Aquilo que é diferente não me incomoda porque consigo ter uma auto percepção daquilo que sou. A frase deixa de ser “eu sou diferente de…” e passa a ser “eu sou igual à…”. Nesse sentido, a pessoa consegue criar uma imagem de quem é. Os outros deixam de ser ameaças com seus jeitos “diferentes” de ser. A pessoa pode sentir segurança e confiança naquilo que é e relacionar-se da sua forma com a diferença dos outros.

    Também ocorre que o respeito pelos limites dos outros começa a acontecer. Na medida em que percebo quem sou, também percebo quem o outro é. Ele deixa de ser “diferente de mim” e passa a ser outro. Eu posso olhar para quem sou e para o outro como indivíduos autônomos. Ligados, porém únicos. A partir disso o respeito e novas formas de relacionamento se tornam possíveis para cada um dos envolvidos. ter a coragem de ser quem se é envolve olhar para o espelho ao invés de ficar olhando apenas para os outros.

    Abraço

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