• 22 de maio de 2020

    Surpresa

    – E é muito difícil pra mim, não sei o que fazer.

    – Sim, quando isso ocorreu, como você se sentiu?

    – Nossa, foi como se tivessem tirado o chão debaixo dos meus pés.

    – Foi algo surpreendente para você, completamente não esperado?

    – Sim, mas parece que eu ainda não saí disso sabe?

    – Não parece, você não saiu. Mas está tudo bem.

     

    Quando somos pegos de surpresa, reagimos sem pensar. Comportamentos automáticos aparecem a fazemos algo antes de nossa consciência interferir. Porém, podemos manter esta atitude durante um bom tempo depois que o evento aconteceu. Conhecer nossas reações e saber interferir sobre elas é fundamental para não ficar “preso na surpresa”.

    A vida é incontrolável. Por mais que nos seja possível realizar previsões ou programar o nosso dia, a verdade, para todos é que uma quantidade grande de situações que nos pegam de surpresa ou “despreparados” surgem com frequência em nossas vidas. Diante disso, um conhecimento importante é sobre como reagimos a situações inesperadas. Em geral, tendemos à alguns padrões de comportamento: retraimento, ataque, paralisia ou inflação.

    Quando nos retraímos, damos um passo para trás, arregalamos os olhos e tentamos nos proteger criando distância entre o evento e nós. No ataque, partimos para cima daquilo que nos agride, tentando destruir ou neutralizar a ameaça. Paralisar é “se tornar pedra” e esperar que alguma coisa aconteça ou que a ameaça passe por mim sem me perceber. A inflação é quando tento me fazer maior do que aquilo que me surpreende crendo que, com isso, resolverei ou não serei atormentado pelo problema.

    Cada uma dessas atitudes pode perdurar o tempo necessário para nos organizarmos diante da ameaça e então, possamos lidar com a situação ou podem continuar indefinidamente pela vida. Embora sejam padrões de respostas automáticos, a resposta que damos uma vez que esses padrões surgem não o são. Assim sendo, se me retraio diante de uma ameaça, a partir do momento em que percebo minha retração, posso inferir sobre ela, mantendo o padrão de resposta ou tendo uma nova atitude.

    Esta percepção é fundamental porque quanto mais respostas podemos nos viabilizar para lidar com as situações, é mais provável que sejamos bem sucedidos com elas. A tendência é nos fixarmos em alguns padrões de resposta, porém esta fixação nem sempre é útil. Assim sendo, muitas vezes precisamos atacar ao invés de paralisar e em outras vezes é o contrário. Ter acesso à estas duas formas de lidar com a experiência nos deixa comportamentalmente mais ricos.

    Além disso, estes padrões também geram experiências emocionais internas. Assim sendo a raiva segue ao padrão de ataque, a impotência diante do retraimento, o medo acompanha a paralisia e o orgulho a inflação. Essas emoções criam uma “experiência de eu” que podemos confundir com nossa identidade. Quando nos damos acesso à mais de uma dessas experiências, também ampliamos a nossa percepção de eu e entendemos que nossa identidade de incluir mais experiências.

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