• 3 de julho de 2017

    Você e a fantasia que eu tenho de você

    – Eu quero isso Akim, ser amado!

    – Não, não é bem isso.

    – Como que não? Todo mundo quer!

    – Claro, porém o que você está dizendo não é “amor”. Ouça o que você diz.

    – “Quero alguém que esteja lá para mim”.

    – Sim. Não se trata de amar. A pessoa tem que estar lá para você. É isso, ela nem precisa amar você, precisa “estar lá” “para” você.

    – Não estou entendendo.

    – Me parece mais o desejo de uma criança indo ao parque e olhando, por cima do ombro, se a mãe “está lá para” ela, caso ela precise.

    (Ele chora)

     

    A fantasia que criamos sobre a relação que queremos diz muito sobre como nos posicionamos na relação. Compreender melhor como criamos nossas fantasias nos ajuda a entender como criar relações mais saudáveis.

    As pessoas falam muito sobre “amor” e pouco sobre “relação”. Ocorre que o segundo é muito mais importante que o primeiro, na verdade, para muitos pesquisadores, o segundo só ocorre em função do primeiro. A maneira pela qual nos relacionamos diz sobre o que esperamos de uma relação, do outro e de nós mesmos. Nesse sentido, a estrutura da relação e a maneira pela qual ela é formada se torna mais importante do que os afetos envolvidos.

    O exemplo que eu trouxe acima, fala sobre isso. O cliente depositava na palavra “amor” a ideia de alguém que vai estar lá por ele. Basta pensarmos em como isso se dá na prática. Como podemos saber que alguém vai “estar lá para nós” na prática? Que tipo de imagem essa frase nos leva a construir? Dificilmente consigo pensar em um casal onde um está lá para o outro, as pessoas estão vivendo suas vidas, precisam que o outro também esteja vivendo a sua ao invés de estarem o tempo todo “lá para ele”.

    Quando falei à meu cliente a imagem que me veio na mente ele chorou. Ele se identificou com a criança que fica querendo que a mãe esteja lá por perto. Ora, uma mulher (heterossexual) não deseja um filho para criar, ela quer um homem do seu lado. Meu cliente não era um homem, mas um filho para suas namoradas. O que  geralmente ocorria era que elas achavam outro homem (o pai) com quem tinham um relação de homem – mulher e com ele mantinham a de mãe – filho (durante pouco tempo).

    A fantasia nos mostra o que queremos e se isso pode dar certo na relação. Basta criarmos imagens literais do que fantasiamos. Neste caso ele entendeu que não iria dar certo. O que ele precisava era melhorar sua auto estima para “ir lá” sozinho mesmo porque era o que ele queria fazer. A partir dessa percepção, ele ficou um bom tempo sem pensar em namoros e se desenvolveu sozinho muito bem. O desejo veio mais tarde sob uma nova forma.

    É isso o que ocorre quando vemos a fantasia de maneira crua. Ela nos mostra o que queremos, com isso podemos verificar se precisamos de uma relação ou se o que precisamos é melhorar algo em nós para, mais tarde nos relacionarmos. O problema surge quando queremos realizar a fantasia. Isso porque, em geral, elas são fantasias infantis ou adolescentes mal-formadas, com base em muitos valores que “não funcionam”. Porém, as pessoas tendem a insistir no erro, dar mais do mesmo remédio até que funcione (só que não funciona).

     

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