• 10 de fevereiro de 2021

    Vou mostrar para vocês!

    – E eu não sei porque… mas não consigo fazer o que eu quero.

    – Bem, você chegou até aqui, não foi? Teve muitas vitórias, o que motivou elas?

    – Não sei sabe… eu consegui o que eu queria…

    – Que era?

    – Sei lá… parece até meio idiota… mas queria mostrar que eu ia conseguir.

    – Exato… agora já mostrou… e então?

    – Pois é, não consigo fazer nada!

    – Claro, são duas motivações diferentes.

    – Como assim?

    – Querer mostrar algo para os outros, uma briga contra eles, certo?

    – Sim.

    – É algo bem diferente de eu quero fazer, para eu mesma.

    – Hum… é verdade… e isso me dá medo.

     

    O ato de fazer e de “fazer para mostrar” são muito diferentes embora pareçam próximos e se confundam. Mostrar ou provar para alguém é uma atitude de birra, vingança ou raiva, geralmente usada para ocultar sentimentos de tristeza, impotência e menos valia.

    Podemos pensar no “desejo de fazer” em relação aos motivações que o impulsionam. Algumas são internas, relacionadas com a criação de estados emocionais pessoais e valores da própria pessoa. outros são externos e tem a ver com a reação dos outros diante do que foi feito. Temos também a aproximação, ou seja, o intento de criar algo com o feito, agarrar alguma coisa e seu oposto, o ato de afastar-se de alguma coisa, evitar que algo ocorra. Não é uma questão de certo ou errado, mas sim do uso adequado de todas essas formas de motivação.

    Em geral, quando o discurso “vou mostrar para vocês” é aplicado, a pessoa assume uma atitude de motivação externa e de afastamento. “Eles vão ver que eu não sou uma fracassada”, por exemplo. Aqui fica evidente que o “alvo” é o pensamento do outros (motivação externa) que irá “não pensar que a pessoa é uma fracassada” (afastamento). É óbvio supor que, para que a pessoa assumir este desejo, ela sabe ou acha que “eles” pensam que ela é uma fracassada.

    O ponto importante é lidar com as emoções geradas pela percepção citada acima. Isso porque, em geral, as pessoas usam muita energia para provar algo à um terceiro e não para impulsionar o seu desejo de ser uma pessoa de sucesso, por exemplo. Essas emoções em geral, são de impotência (visto que foca nos outros), raiva ou tristeza (em relação ao julgamento dos outros) e fala de uma auto imagem frágil em relação a essas percepções alheias. Assim a pessoa, ao invés de fortalecer sua auto imagem, busca mudar o pensamento de terceiros.

    E muitas vezes tem sucesso nisso, porém, o fato é que são mecanismos diferentes. Mudar a percepção de um terceiro sobre eu, não é o mesmo que eu mudar minha auto percepção. Desastre à vista, muitas pessoas depois de “mostrarem para eles”, não conseguem “mostrar para si”. Uma variante comum é a “síndrome do impostor”, onde a pessoa, em geral bem sucedida e enaltecida pelos outros, sente que é uma impostora e que não é tão boa assim. Nestes casos é importante um trabalho para desenvolver a valorização da auto imagem.

    Isso não quer dizer que a motivação de “mostrar para os outros” é errada, o fato que exponho aqui é: mostrar para os outros não é o que vai alimentar sua auto estima. Ter uma estima dependente da mudança de pensamentos dos outros em relação à você não é “auto” e muito menos algo que seja saudável manter. Aprender a lidar com emoções difíceis e criar uma auto percepção realista são fatores estruturantes da auto estima. Neste caso se o seu desejo é esse é mais importante aprender a lidar com as opiniões do que mudá-las, afinal ninguém agrada 100% e contar com isso é expor-se demais ao risco.

    Comentários
    Compartilhe: